O advogado José Gil Barbosa Terceiro, nascido em Campo Maior, mas que se diz altoense de corpo e alma, lançou, neste ano de 2017, um blog na internet onde narra lendas, mitos, causos e outras histórias fantásticas, todas ambientadas no Piauí.

Entre as publicações que já se encontram no blog, podem ser encontrados histórias oriundas de Altos, Campo Maior, Teresina, Amarante, Piripiri, Luiz Correia, Pedro II, Parnaíba, Oeiras, Barras, Luzilândia, Joaquim Pires, Matias Olímpio, Esperantina, Campo Largo do Piauí e do Parque Nacional de Sete Cidades.

Segundo José Gil Terceiro, “quase todas as histórias são contadas a partir de dados extraídos da realidade, ou seja, foram contadas por alguém que jura que o fato ocorreu. Algumas poucas que são contadas em forma de conto por não haverem informações suficientes, aproveitam o máximo possível das informações disponíveis na realidade, bem como do contexto histórico do cenário em que dizem ter ocorrido a lenda, mito ou causo”.

Ressalta ele que o projeto é uma tentativa de resgatar essas histórias, que fazem parte da cultura e da história de nosso povo. “Muitos autores já lançaram livros sobre o tema, tentando coletar as lendas do nosso povo, mas esses livros não estão acessíveis ao grande público. Muita gente quando fala em lendas do Piauí só se lembra do Cabeça de Cuia ou, quando muito da Num Se Pode, que são lendas que habitam o imaginário da capital piauiense. No entanto, as cidades do interior do Piauí possuem suas próprias lendas que, quando muito, só são conhecidas na cidade de que se originaram, e mesmo assim, nos dias atuais, muito pouco”, diz José Gil.

O projeto teria se originado alguns anos atrás, quando José Gil e sua esposa Catarina Sena, idealizaram um grupo no facebook (
https://www.facebook.com/groups/822070491194786), onde eles teriam começado a contar causos fantásticos de que teriam conhecimento. Com o tempo, pessoas foram entrando no grupo e passaram a contar as suas próprias histórias. A partir daí nasceu um acervo de contos fantásticos que se limitavam ao grupo, que hoje conta com mais de quatro mil pessoas, de modo que, até hoje, com uma certa frequência, são postados novos causos. Em 2016, José Gil teve contato com pessoas do Teatro e do cinema piauiense, e teve a idéia lançar um canal no Youtube (https://www.youtube.com/channel/UCmdRNKSSSaGDVeRwu5ql9Vw), onde dramatiza, em forma de curtametragens amadores, as histórias contadas no grupo e outras por ele inventadas baseadas nas lendas piauienses, além de postar outros vídeos que se relacionem com a temática do fantástico assustador como notícias, depoimentos, e projetos culturais piauienses desenvolvidos por parceiros.

Recentemente, José Gil percebeu que o enorme acervo de causos de que dispunha no grupo do facebook, não deveriam ficar restritas àquele local e, por isso, resolveu jogá-las em um blog, que foi lançado já em 2017. Ali conta com suas palavras as histórias que tomou conhecimento no grupo, bem como as que já havia contado por lá. Mas não se limita a elas. Sempre que pode, pesquisa novas histórias piauienses na internet ou em bibliotecas das cidades de nosso estado que visita. José Gil trabalha com o objetivo de, um dia, transformar referidas histórias em um livro. Paralelamente, continua a produzir vídeos, fazendo tudo isso em suas horas vagas, pois é, ainda, advogado atuante em Altos.

“Quando criança, eu ficava fascinado com as histórias fantásticas que me contavam ter acontecido em minhas cidade e nas cidades vizinhas. Isso despertava minha curiosidade, o que foi essencial para me fazer pesquisar não só esse, mas os mais variados temas de que hoje tenho conhecimento. Hoje em dia, as pessoas não contam mais tais histórias. Pouco falam no assunto. As crianças não brincam mais em grupo nas ruas. As danças folclóricas e outras manifestações culturais próprias dos piauienses como o bumba-meu-boi, por exemplo, estão beirando a extinção, sendo essa a regra na maioria das cidades piauienses. Nossa história cultural é muito rica, mas muito está se perdendo. Resguardar e resgatar os elementos da cultura de nosso Estado para as gerações futuras, bem como disponibilizar enorme acervo sobre elas na internet, para que fique à disposição de todos, é a força que me move a levar à frente referido projeto”, complementa José Gil.

No blog, além de narrar lendas, mitos, causos e outros acontecimentos fantásticos ou assombrosos, José Gil realiza entrevistas com outros piauienses que, de alguma forma, já desenvolveram trabalhos culturais que guardem relação com a temática exxplorada pelo blog. Assim, constam no blog, entrevista com Rafael Nolêto (idealizador do Paganismo Piaga, religião tipicamente piauiense, que à moda dos gregos, nórdicos, indígenas e africanos, pregam um politeísmo que adora as forças da natureza representadas, no caso, por mitos de nosso Estado), Marcos Aureliano (roteirista do fillme de terror piauiense “O Jogo de Inácia”, a ser lançado em breve) e Eduardo Prazeres (autor da primeira trilogia literária piauiense, onde conta a saga de Crispim – o cabeça de cuia – em busca da redenção). “É preciso divulgar e valorizar as pessoas que produzem e divulgam a cultura em nosso Estado. O Piauiense dá muito valor ao que é de fora, mas temos muitas obras fantásticas que, infelizmente, não são conhecidas pelo grande público”, conclui José Gil Terceiro.

Para desenvolver o trabalho, José Gil conta com a ajuda de alguns amigos. Segundo ele, as ilustrações das histórias que conta no blog são feitas, em regra, pelo altoense Douglas Viana, um jovem e talentoso desenhista. Excepcionalmente, alguns outros artistas contribuem com o projeto: é o caso de Bernardo Aurélio (quadrinista piauiense e proprietário da Quinta Capa, loja especializada em quadrinhos em Teresina), Dino Alves (desenhista que faz ilustrações para o jornal Diário do Povo) e  Jonas Carvalho (um jovem desenhista teresinense). Na produção dos vídeos, José Gil conta com a ajuda dos amigos Valbernielson Borges, que às vezes atua como cameraman, Marcelo Cavalcante (que já atuou em um vídeo e eventualmente ajuda na edição ou no feitio de legendas para os vídeos), João Oliveira (que já lhe ajudou como cameraman), além dos atores que já atuaram e eventualmente atuam (Pedro Madeira, Marineide Lins, Carolina Silva, Geirlys Silva, Mayra Sousa, Iridon Marques, Paulla Nobre, Catarina Sena, Marcos Aureliano, Daniel Sousa, Ana Lúcia, Maria Luiza, Arthur Rikuelmy, e Zezinho Ribeiro), além da eventual participação de outros altoenses. Algumas trilhas sonoras já foram fornecidas por pessoas da terra, como é o caso de Luan D’Luna, Zezinho Ribeiro e isadora Raulino.

O projeto, desenvolvido apenas por José Gil, sua esposa e seus amigos, tem se mostrado importante para a preservação de certos aspectos culturais do Piauí. “Segundo a Unesco, o patrimônio cultural do mundo, além dos escritos, compreende também as tradições orais, as línguas, a música, a dança, as artes do espetáculo, o artesanato, os costumes, as crenças, etc. Muito disso, se não for registrado em meios escritos ou outras formas de mídia, acaba por se perder. Apenas busco colaborar de alguma forma para que isso não ocorra”, explica José Gil. O blog, de José Gil Terceiro, Causos Assustadores do Piauí, pode ser visualizado no seguinte link: https://causosassustadoresdopiaui.wordpress.com/blog/.