Sábado (17) , na Casa de Shows Hunscarair, é dia do tradicional Baile da Saudade. A festa acontece sempre duas vezes ao ano, no mês de maio e dezembro. Durante o baile, cuja sonorização ficará por conta do pancadão Ultra Som, Laser Som e Raio X, clipes com músicas dos anos 60, 70 , 80 e 90. O baile, que tem tradição de ser casa cheia, é uma oportunidade para se divertir, ouvindo seqüências de musicas e clipes do passado, como Madona, Erasure, Air Supplay, Double You, Roxette, Cindy Lauper, Alphaville entre outros.

Em virtude deste tradicional evento que há 21 anos emociona toda a população de Altos, publicarei o meu conto "Baile da Saudade", cujo texto narrativo faz parte da minha primeira obra literária " Conto contos & Poesia", escrita entre os anos de 2003 e 2004. Leia-o!

Baile da Saudade

O dia era 7, o mês era dezembro e ano era 2003. Tudo aconteceu nessa referida data. Essa data marcou e transformou inteiramente a minha vida. Eu tinha apenas dezesseis anos e muita liberdade, concedida pelos meus pais, é claro, para participar todos os finais de semanas de festas dançantes ou mesmo para ir tomar sorvete com os amigos na Praça Cônego Honório. Mas, como falei, esta me marcou muito. Havia da minha parte uma grande expectativa em relação ao evento mais badalado de Altos – O famoso Baile da Saudade.

Eu estive no fim da tarde num salão de beleza da elite altoense arrumando o cabelo e fazendo as unhas. E tudo que fazia não desviava o meu pensamento dele: Márcio. Eu o havia conhecido na noite anterior na praça do Rotary, em frente ao colégio Cazuza Barbosa. Márcio era um rapaz muito bonito tinha o corpo “produzido em academia”, cabelos castanhos, pele clara, media aproximadamente um metro e oitenta de altura, olhos azul-esverdeado, inteligente – formado em engenharia elétrica; em suma, um arraso de gato. Havíamos ficado por poucas horas; mas, o suficiente para nos apaixonarmos. Eu estava muito feliz por saber que ele estaria comigo naquela belíssima festa e acreditava que também estava super-ansioso. Pois, não era à toa, que muitos me admiram como uma das mais belas jovens de Altos.

O local da festa era a Casa de Shows Hunscaraí. Da minha residência, no bairro Batalhão, ouvi o início da festa e gritei Ângela, minha colega e vizinha, para que se aprontasse logo a fim de não chagarmos atrasadas. Ela veio e me surpreendeu:

– Nossa Girlene! Mas como você está linda!

Eu me senti o máximo porque conhecia de verdade Ângela. Ela jamais me elogiaria se não fosse verdade. Estávamos de saída e Ângela sugeriu que ligasse para o celular de Márcio. Disquei o número e ouvi aquela voz grave, porém, delicada dizendo que nos pegaria em casa e, assim, não demorou mais que dez minutos e Márcio já havia chegado. Foi logo me beijando calorosamente. Era bom demais, tudo aquilo parecia um conto de fadas. Chegamos ao local da festa de Corsa Sedan. Minhas colegas do Colégio Fênix ficaram babando, pouco importava elas, o mundo, nada mais tinha significado para mim; somente Márcio e aquele momento mágico que ali eu presenciava e, sobretudo, participava interessava-me. Meu mundo e anseios se resumia à Márcio. Ele era naquele momento o meu tudo. Quando eu tocava no seu corpo sentia a coisa mais gostosa do universo. Ele estava maravilhosamente lindo: calça Jeans HD surf wear, camisa manga longa Ônix , tênis Rainha sistem.O perfume nem se fala. Era hipnótico. O cheiro mais gostoso que o meu olfato já tinha sentido.

Infelizmente, não dá para descrever fielmente aquele maravilhoso momento. Tudo era tão lindo mesmo que eu sentia o meu espírito fora de mim; era fantástico! Eu acreditava que Márcio estava sentindo o mesmo. Não havia dúvida, ele estava sim. Estávamos numa mesa tomando campari; Márcio, eu, Ângela e Kelson, o namorado de Ângela, quando começou a rolar a seqüência de músicas românticas. Márcio me tirou para dançar ao som de Marking Love out nothing at all, Air Supply. Era tudo que eu queria, está unida a ele através da dança e daquele ritmo romântico que mais parecia o soar da trombeta do cupido. Aquele momento era sublime, mas eu sabia, estava apenas começando e mesmo antes de censurar minha mente, depois de dançarmos duas lindas canções, Márcio falou com tamanha sutileza e carinho, capaz de me fazer arrepiar toda, disse-me que desejava ficar a sós comigo. Era o que eu mais queria. Fomos lá fora tomar uma água mineral, sentados no banco do seu Corsa Sedan. Márcio abraçava e beijava-me toda e, eu me sentia a mulher mais amada do universo naquele momento.

O tempo era nosso inimigo, 2:40hs da manhã eu ali nos braços de Márcio, amando e sendo amada. Não lembrava mais de Ângela e Kelson. Na minha mente só existia dois nomes que se transformara numa regra lingüística: Márcio + Girlene = Amor. Márcio me convidou para tomarmos sorvete lá no Dedé Lanches, ao lado da casa lotérica. Eu jamais negaria um pedido a pessoa que eu mais amava. Fomos e no caminho Márcio parece desistir fazendo o retorno em frente ao Ginásio Estadual Pio XII. Lhe perguntei o porquê de ter mudado de ideia :

–Não se preocupe meu amor, vamos para um lugar muito melhor, você vai gostar.

Márcio acelerou o automóvel e com 80 km/h passamos em frente à Hunscaraí em direção à cidade de Campo Maior. De repente estamos em frete à sub-estação da Cepisa, curiosa com tudo aquilo que estava acontecendo perguntei para onde ele estava me levando, e sem que fosse possível ele me responder, nos deparamos com a fachada do Way Motel. Cruzei os braços e fiz um sinal de negação com a cabeça. Só que Márcio, carinhosamente, insistia muito. Tomada pelo impulso da paixão, lembro que estava desfrutando daquele momento prazeroso, primeiro e único. Como se não bastasse amanhecemos juntos naquele apartamento. Eu pensava duramente nas conseqüências que ia sofrer por ter cedido a tão grande prazer. Saindo daquele local, fomos em direção ao centro da cidade e Márcio me deixou por trás da igreja matriz de São José. De lá segui a pé para casa. Justifiquei o atraso para minha mãe, mentindo. Disse para mamãe que ao sair do baile, tinha me separado de Ângela e tinha ido com Flávia à residência desta, dormi um pouco e ao acordar tomei café com ela.

Márcio se foi e eu fiquei na expectativa de que ele um dia aparecesse, mas isso não aconteceu. Eu sempre ligava para ele. No entanto, só dava ocupado ou fora de área. O tempo foi se passando já fazia um mês que eu não tinha noticias de Márcio.

Um certo dia, após o almoço, eu me senti mal, cheguei a vomitar e em seguida a desmaiar. Minha mãe levou-me para o hospital e o médico me colocou sob observação e requisitou alguns exames. Um dos exames foi a causa da grande transformação da minha vida: o exame positivo de gravidez. Três dias, após ter tido alta do hospital eu liguei para Márcio, e finalmente consegui falar com ele: — Márcio, meu amor, quanto tempo! Deus do céu... Como é maravilhoso... É como se eu estivesse tocando no teu corpo!

— Oh! Girlene, por favor, fala logo meu bem, estou super-ocupado com os trabalhos da empresa e não tenho tempo disponível para o teu romantismo exagerado.

— Está bem meu querido. Você vai adorar! Eu gostaria de falar pessoalmente, mas já que você insiste... sabe, meu amor, Deus nos contemplou com bênção dos céus... o nosso herdeiro, o nosso...

— Pode parar com essa loucura! Eu não tenho filho, muito menos compromisso sério com você. Fui claro com você. Tudo foi apenas uma aventura. Olha, te vira, até porque não estou morando mais em Teresina. Atualmente estou morando em Porto Alegre. E não pretendo jamais colocar os pés novamente nessa terra de índios. Por favor, esqueça-me e não me ligue mais!

Márcio desligou o telefone e antes mesmo de gotejar as primeiras lágrimas da derrota, eu ainda segurava o telefone ao ouvido e numa atitude de desespero clamei em alta voz: — Márciooo! Por favor, não faz isso comigo! Não!...Não!... Meu amor... Não faz isso comigo e com teu filhooo!!!

Naquele exato momento eu perdi todos os meus sentidos. Fui socorrida, mais uma vez pela minha mãe.

Novamente eu era atendida no hospital José Gil Barbosa. Desta vez o médico me recomendou bastante repouso em detrimento de fortes emoções.

Após estes episódios marcantes da minha vida de adolescente, jurei que ia ser forte o suficiente para manter o meu filho vivo e superar aquela horrível dor. Me via uma jovem humilhada e fracassada. Infelizmente aquele lindo e maravilhoso amor havia transformado inteiramente a minha vida.

Por Gilberto Damasceno