Durante muitos anos, li na bibliografia historiográfica corrente sobre nossa cidade que era mantido em Altos um campo de experimentação têxtil. Embora sem dar muita importância à informação, achava curioso aquilo: como seria este campo de plantas têxteis? Onde ficava localizado? Com era a sua utilização?
Vasculhando fontes oficiais do estado em 03 de janeiro de 2014, encontrei a informação necessária e percebi que mais uma vez Altos despontou com pioneirismo em uma iniciativa importante para o engrandecimento econômico do Piauí: foi aqui, na Fazenda Buritizinho, que se deu a implantação do primeiro campo experimental de criação do bicho-da-seda.
Patrocinado pelo estado do Piauí, o fazendeiro e agropecuarista João Simeão da Silva iniciou, em meados da década de 1930, as tentativas de criação do animal. Inicialmente, foram plantadas mudas de amoreiras, árvore da família das moráceas e alimento principal da larva do bicho-da-seda. As espécies principais de amora são a preta e a branca, sendo esta a principal fonte de alimentação do valioso inseto, que produz a matéria-prima utilizada na fabricação dos mais lindos e valiosos tecidos do planeta.
João Simeão da Silva
Já em 1935 era mantido um campo de cultura na citada fazenda, conforme se pode verificar em matéria do Diário Oficial do dia 04 de maio de 1935, página 02, em que se lê nos despachos do Interventor Landry Sales que lhe é solicitadopelo Diretor de Obras do Piauí que seja entregue ao Prefeito Lourenço Barbosa a quantia de 3.000$000 (três contos de réis) para acorrer as despesas com os experimentos.
Diz o periódico consultado- Diário Oficial do Estado do Piauí, ano VIII, edição n° 181, de 15.08.1938-, em matéria intitulada “O início da criação do bicho da seda no Piauí”, que o cultivo da amoreira nos campos da Fazenda Buritizinho era bastante auspicioso, com os parques desenvolvidos e vicejantes.
Quanto aos óvulos do bicho-da-seda, foram trazidos de Barbacena, em Minas Gerais, chegando em Altos por via postal, de 40 em 40 dias, período em que se completa o ciclo de metamorfose do inseto, cujo alimento era renovado a cada duas horas nos tabuleiros. “Sobre um dos tabuleiros, erguia-se um bosque, engenhosamente construído, e onde os insetos haviam já preparado os casulos, ricos invólucros que encobrem as crisálidas” – assim relata o citado jornal.
O Interventor Federal do Piauí, Dr. Leônidas Mello, compareceu à fazenda, acompanhado do Diretor de Agricultura do estado, Dr. Fernando Pires Leal, e de um representante do Diário Oficial do Piauí, no sábado,13 de agosto de 1938, para conferir de perto aquela prova animadora do que poderia ser no futuro uma grande força econômica para o Piauí.Foram recepcionados pelos coronéis e lideranças políticas João Simeão da Silva e Lourenço Saraiva Barbosa, então Prefeito Municipal de Altos.
As autoridades percorreram o sítio Buritizinho, ficando impressionadas com o desenvolvimento e organização, que foi classificado como “um vigoroso atestado do espírito empreendedor, da férrea força de vontade e da capacidade de trabalho de seu proprietário, o Coronel João Simeão” [...]. O fazendeiro foi muito elogiado por seu “exemplo edificante” de coragem e determinação.
Na ocasião, faram tiradas diversas fotografias dos primeiros casulos de bicho-da-seda colhidos no Piauí e dos tabuleiros do campo experimental.
Fazenda Buritizinho, em 1949
Por Carlos Dias, professor e pesquisador