Introdução

Na manhã do dia 08 de outubro do corrente, estava eu pensando nos novos ares que sopraram sobre o nosso município, trazendo em sua brisa a renovação das esperanças dessa comunidade que tanto almeja por um futuro mais promissor, podendo, assim, a população levar uma vida austera, cheia de dignidade, saúde, paz e prosperidade.

Então, pensei em como poderia trazer aos altoenses e aos novos eleitos e reeleitos uma mensagem que transparecesse os anseios de nossa comunidade, ao mesmo tempo reforçando seu compromisso e interesse em batalhar pelo resgate de nossa cidadania, tão ferida nos últimos tempos.

Fui encontrar refúgio nas eternas páginas de sabedoria da Sagrada Escritura, e concluí que esta colaboração será sobremaneira proveitosa, dada a profundidade do conteúdo e das leituras bíblicas que selecionei.

A idéia é que elas penetrem no mais íntimo do coração da Prefeita eleita, do Vice-Prefeito e dos edis componentes da Câmara Municipal que a partir de 01 de janeiro de 2013 regerão os destinos do nosso município.

Bem poderia estas leituras ser utilizadas nas celebrações religiosas em ação de graças pela posse dos poderes Executivo e Legislativo, quando a população em geral, juntamente com os celebrantes, aclamará e testemunhará aquela festa solene.

Fundamentação bíblica

Os textos por mim selecionados são os seguintes:

Os reis devem procurar a Sabedoria (Livro da Sabedoria 06, 01-11; 18-21)

Escutai, reis e entendei! Instruí-vos, juízes dos confins da terra!

Prestai atenção, vós que dominais a multidão e vos orgulhais das multidões dos povos! O domínio nos vem do Senhor e o poder, do Altíssimo, que examinará vossas obras, perscrutará vossos desejos.

Se, pois, sendo servos do seu reino, não governastes retamente, não observastes a lei nem seguistes a vontade de Deus, Ele cairá sobre vós, terrível, repentino. Um julgamento implacável se exerce contra os altamente colocados. Ao pequeno, por piedade, se perdoa, mas os poderosos serão provados com rigor.

Pois o Senhor do universo a ninguém teme. Não se deixa impressionar pela grandeza; pequenos e grandes, foi Ele quem os fez; com todos se preocupa por igual, mas aos poderosos reserva um julgamento severo.

A vós, portanto, soberanos, me dirijo, para que aprendais a ser sábios e não pequeis; santos serão os que santamente observam as coisas santas, os que o aprendem encontrarão quem os defenda. Ansiai, pois, por minhas palavras, desejai-as e recebereis a instrução.

O amor é a observância de suas leis, o respeito das leis é garantia de incorruptibilidade e a incorruptibilidade aproxima de Deus. Portanto, o desejo da Sabedoria conduz à realeza.

Chefes dos povos: se vos agradam tronos e cetros, honrai a Sabedoria e reinareis para sempre.

O governante (Livro do Eclesiástico 10, 01-05)

Um governante sábio educa o seu povo, e a autoridade de um homem inteligente é bem estabelecida.

Qual o governante do povo, tais os seus ministros; qual o que governa a cidade, tais todos os seus habitantes.

Um rei sem instrução arruinará seu povo, uma cidade será construída graças à inteligência dos chefes.

Nas mãos do Senhor está o governo do mundo: Ele suscita, no tempo oportuno, o homem que convém.

O sucesso de um homem está nas mãos do Senhor, é Ele que dá ao escriba a sua glória.

Os chefes devem servir (Evangelho de Marcos 10, 41-45)

Ouvindo isso, os dez começaram a indignar-se contra Tiago e João. Chamando-os, Jesus lhes disse: “Sabeis que aqueles que vemos governar as nações as dominam, e os seus grandes as tiranizam. Entre vós não será assim: ao contrário, aquele que dentre vós quiser ser grande, seja o vosso servidor, e aquele que quiser ser o primeiro dentre vós, seja o servo de todos. Pois o Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate por muitos”.

Reflexão necessária

Eu trouxe a vós um elenco de leituras bíblicas visando fornecer reflexões proveitosas aos novos membros dos poderes Executivo e Legislativo eleitos para o mandato de 2013 a 2016, bem como aos demais que foram reconduzidos ao exercício de tão nobres funções públicas.

Fala aqui menos o professor e pesquisador, e mais o cidadão e graduado em Teologia, que anseia por dias melhores para a nossa nação.

Diante do exposto, resta-nos afirmar que sábio é aquele que governa com justiça, oferecendo aos governados paz constante e prosperidade completa, afinal, como dizia o Almirante Thompson, “governar é prever para prover”.

Muitos se inebriam e embriagam com o poder de mando e passam a agir arbitrariamente e ‘esquecem’ o zelo pela coisa pública. Desnorteados, como que ofuscados por potente luz, danam-se a esbanjar autoridade, enquanto a população anseia por dias melhores e até mendiga uma benesse, esperando que lhe chegue às mãos o paliativo, que o chefe lhe atira na cara como se fosse um grande favor que estivesse fazendo.

Hipocritamente dizem fazer caridade e trabalhar pelo engrandecimento do município. Puro assistencialismo.

Aqui nos deparamos com o paradoxo Caridade X Justiça. Caridade é amor, não esmola, e está - no plano social - abaixo da Justiça. No plano teologal, não há virtude alguma acima da caridade (cf. I Cor. 13, 13). Mas no campo social a primazia é da justiça, pois temos que primeiro prever para depois curar, ou, como nos afirmara o Papa Pio XII (1876-1958), “primeiro o dever, depois a bondade”.

E o pontífice vai além, em texto publicado no Almanaque da Força Pública do Estado (do Piauí) para o ano de 1934, editado pela Tipografia Popular de Teresina: “Temos de procurar evitar pela Justiça aqueles males que pela Caridade depois temos de curar, quando a (nossa) justiça foi insuficiente para evitá-los”.

Atentai, chefes dos povos! O bem é público e a ele deve ser destinado, não a um grupo de beneficiados, não em programas de emergência que em nada resolvem os problemas da comunidade, mas em projetos sérios de resgate da cidadania e da dignidade humana, há tempos tão vilipendiada.

Sede justos! Pois “quando os justos se engrandecem, o povo se alegra, mas quando o ímpio domina, o povo geme. O justo se informa da causa dos pobres, mas o ímpio nem sequer toma conhecimento” (Provérbios 29, 02; 07). Nada de dar ouvidos aos desocupados e puxa-sacos que não têm idéias, nada fazem, nada constroem e ainda querem atrapalhar o pouco que é feito.

No versículo 12 do mesmo capítulo 29 de Provérbios, encontramos a seguinte advertência: “Se um chefe dá atenção a palavras mentirosas, seus ministros todos tornam-se perversos”. E o povo vai gemer com isso. Mas, em contrapartida, no capítulo 14 vem o arremate: “O rei que julga os pobres conforme a verdade firmará o seu trono para sempre”.

“Honrai a Sabedoria e reinareis para sempre” (Livro da Sabedoria 06, 21). Mas somente governará para sempre aquele que tem valor. E o poder - ao contrário do que muitos pensam - não corrompe o homem, apenas o prova. Se ele já for de má índole, revelar-se-á.

Já diz o ex-governador e hoje Senador da República, Francisco de Assis Moraes Sousa (Mão Santa), que “o líder atrai pela força da personalidade, muito mais do que pela palavra. Sabe o que quer e como conseguir seus objetivos”.

Planejai, líderes! Nada de improviso. O país, a cidade e o estado não merecem isso. Saiam dos gabinetes com seu secretariado e vejam a gama de coisas que vós tendes a encaminhar. Ajam, pelo bem do povo, e façam o povo sorrir, não com a velha e tão usual prática do panis et circencis (pão e circo), mas com ações que ofereçam aos munícipes vida digna e prosperidade completa.

Conclusão

Com leituras bíblicas e frases outras, falamos sobre a perpetuidade do governo, não como enraizamento no poder, mas como perenidade do nome, referência de personalidade, pois um líder autêntico e dinâmico - usando novamente as palavras de Mão Santa - “não se sente diminuído quando percebe ter chegado a hora de passar a outro a liderança” [...], pois “sabe que ninguém é líder todo tempo, nem ninguém será líder de todo mundo”.

Refleti, homens que querem governar o povo! Refleti... E praticai.

Esta é a minha humilde e despretensiosa colaboração ao vosso governo. Que ele seja fecundo em realizações, rico em acertos e milionário em projetos para os governados.

Encerro minhas considerações com as sábias palavras do Dr. Laurindo Raulino (1907-1985), magistrado e professor altoense: “Trabalhando sem egoísmo e tratando com carinho e honestidade os interesses públicos, é que nos revelamos ser verdadeiros patriotas”.

Espero não ser mal interpretado, porquanto não faço nenhum julgamento precipitado das futuras administrações, muito menos dos novos membros da Casa Legislativa. Apenas quis contribuir, como altoense nato e apaixonado por essa terra, com estas reflexões, dando-lhes até uma ampla visão da extensão de sua responsabilidade como administradores desta coletividade, que tanto anseia por justiça, liberdade, saúde, educação, segurança, transporte e moradia digna para si e seus sucessores.

Um abraço caloroso e cordial, com votos de sucesso nessa nova empreitada de suas vidas públicas.

Altos - Piauí, 3ª feira, 18 de dezembro de 2012
Dia da Diplomação dos eleitos na 32ª Zona Eleitoral

Por Carlos Dias, professor e pesquisador