Causou-me enorme estranheza a beligerância com que foi dada a resposta de uma certa “Comissão do Movimento #MeiaJá” a um artigo de minha autoria em que fiz algumas sugestões ao movimento.

Primeiro, porque em momento algum reivindiquei qualquer ascendência ou influência sobre o movimento. Nem sequer conheço os membros da aludida “comissão”, nem participei de quaisquer das suas reuniões. Tão somente hipotequei meu apoio em solidariedade por conta das várias críticas que o movimento vinha sofrendo. E busquei colaborar para que as ações extrapolem os limites da simples interdição de ruas e parta para ações mais consequentes. Em outras palavras: fiz sugestões. Se considerarem convenientes, acolham. Se não, rejeitem. Simples assim.

Segundo, porque, ao contrário do que foi escrito pela “comissão”, participei ativamente das discussões sobre a integração do transporte da Grande Teresina desde 2006, puxada pela AUTRACA (Associação dos Usuários de Transporte Coletivo de Altos), inclusive articulando o apoio para a aprovação da Lei Estadual nº 5.674, que foi proposta pela Deputada Estadual Flora Isabel (PT) e sancionada pelo Governador Wellington Dias (PT), apesar do grande lobby contrário das empresas concessionárias das linhas intermunicipais. Foram também as mobilizações da AUTRACA que levaram à publicação da Lei nº 5.860/2009, que, conforme já falei e esclareci no artigo publicado, dão supedâneo jurídico às reivindicações do Movimento #MeiaJá.

Terceiro, porque não vejo nenhum problema em que as pessoas, principalmente os jovens, optem e participem de partidos políticos. Ao contrário, acho que o discurso do apartidarismo é prejudicial ao avanço da democracia brasileira. A mudança pela qual lutamos na sociedade só acontecerá verdadeiramente quando a participação das pessoas na política deixar de se resumir ao voto no período eleitoral, e passar a ser uma atitude cotidiana. Quem mais festeja o discurso do apartidarismo é a direita conservadora e seus financiadores. Porque quanto mais as pessoas de desencantarem com a participação política, mais fácil fica para eles dominarem os espaços de poder.

Quarto, porque, conforme publicado por alguns membros do movimento #MeiaJá, eles tem apoio da Assembléia Nacional dos Estudantes Livres-ANEL, que nada mais é senão a extensão, no movimento estudantil, de um partido político, o PSTU. Pior do que fazer discurso pelo apartidarismo é fazer esse discurso ao mesmo tempo em que se aparelha um movimento partidariamente, escondendo-se atrás de outras siglas.

Quinto e último, apenas um conselho: um movimento social que pretende alterar o rumo das coisas não pode ter donos e proprietários, que afastam todos os outros para não serem ameaçados em seu suposto “controle”. O sectarismo de quem se considera o detentor da verdade e da consciência absoluta é tão nocivo quanto o imobilismo.
Atenciosamente,

Marcelo Mascarenha