Importância da educação na vida e formação do homem
É preciso que a educação seja entendida como algo mais que ensinamento de regras de comportamento, alfabetização ou escolarização do aluno, num jogo de aprender conceitos e oferecer respostas. Mais do que isso, a educação é a chave que abre as portas para a realização plena do homem, através da sua participação livre e consciente no mundo em que vive.
Sua importância está no fato de oferecer ao indivíduo subsídios para uma atuação mais concreta, porquanto essa bagagem sócio-cultural que se absorve desde a infância com os ensinamentos de nossos pais, em casa, na comunidade, no grupo de amigos, e que se aperfeiçoa na escola, tornam o ser humano completo e consciente do seu papel como cidadão, membro de uma pátria, de uma comunidade e, portanto, responsável por seu bem-estar.
A educação tem, portanto, papel fundamental na formação do homem, tornando-o um ser reflexivo e de ações concretas, contribuindo decisivamente para o desenvolvimento do mundo em que habitamos.
Tributo à professora Joanna Saraiva
Hoje, 15 de outubro, é o Dia do Professor. Por ocasião desta data, trago aos leitores um apanhado histórico sobre Joanna de Abranches Saraiva, nossa primeira professora pública, que relevantes serviços prestou às gerações de nossa comunidade, antes mesmo de sua emancipação política.
Considero que ela tem sido injustiçada ao longo dos tempos pela história geral e educacional de Altos, pois não tem seu nome aposto em nenhuma escola, sala de leitura, biblioteca, rua ou qualquer outro logradouro público. Enquanto isso, diversos personagens, até mesmo alheios à história local ou que nada fizeram pela cidade, tem sua memória perenizada em ruas e repartições públicas do município.
Felizmente o Dr. Alfredo Rosa, nosso primeiro Intendente (Prefeito) deixou o nome de Joanna Saraiva registrado de maneira indelével ao escrever um relato pioneiro datado de 16.12.1922 sobre a história de Altos, publicado no 3° (ou 4°?) volume do livro O Piauí no centenário de sua independência. O livro foi editado no ano de 1923 em Teresina, pela Papelaria Piauiense, e o mencionado histórico foi estampado às páginas de 03 a 08 do grande compêndio, do qual Alfredo Rosa é co-autor.
Uma sucinta biografia
Muito tenho andado em busca de informações que pudessem enriquecer a biografia de nossa primeira mestra; pouco, porém, tem sido encontrado. Estas leves notas que aqui trago foram garimpadas em variadas fontes, desde depoimentos orais, assentos de óbito, manuscritos, documentos oficiais, livros de história do Piauí e até lápides de cemitérios de Altos e da capital piauiense.
Da pesquisa empreendida, o que pude haver até agora sobre nossa personagem passo agora a relatar, com vistas a informar o leitor e bom altoense sobre os grandes nomes de nossa história.
Joaninha Saraiva, como a tratavam na intimidade, era filha legítima de João Abranches Castelo Branco. Seu nome de batismo era Joanna de Abranches Castelo Branco. Foi casada com o Capitão Polidoro Antonio Saraiva, tendo seu nome posteriormente mudado para Joanna de Abranches Saraiva.
O casal Polidoro e Joanna foi proprietário da casa de fazenda Buritizinho, localizada na BR 343, defronte ao conhecido desastre. Posteriormente a citada fazenda pertenceu a João Simeão da Silva e José Fortes Sobrinho (Zozô), ex-prefeito de Altos, e anteriormente a Antonio Saraiva de Carvalho, Capitão da Guarda Civil Nacional, e sua esposa Maria Joaquina Saraiva (1817-1895), pais de Polidoro.
Do casamento com o Capitão Polidoro Saraiva teve os filhos Lavínia, Maria Alcides (1885-04.01.1914) e Antonio Maria Saraiva (1886-1896).
Seu filho caçula, Antonio Maria, faleceu prematuramente aos 09 anos de idade, sepultando-se no cemitério público São José,
“Aqui jaz
Antonio Maria Saraiva
Filho legitimo do Capm. Poli-
doro Saraiva e de D. Joanna
de Abranches Saraiva. Nas-
ceu a 07 de maio de 1886 e
falleceu a 14 de março de 1896.
Seus extremosos Paes
depozitão sobre sua campa
uma lagrima de amor e sau-
dade, dizendo entre soluços:
Dorme, dorme, o casto lírio!
Que te emporta o mundo mais?
Nos gozos lá do Empyreo
Bendiz o amor dos teus paes.
Dorme! Tu foste na vida
Filho amado, um rir celeste.
Voastes a Deus, flor quirida,
Porque de Deus tu viestes”
(SARAIVA: 1894, epitáfio)
Como a primeira professora pública de Altos, Joana exerceu o magistério na antiga Escola Mista da povoação dos Altos. Sua nomeação se deu em 11 de março de 1891, na mesma data em que foi extinta a escola da localidade Riachão e criada outra na povoação dos Altos.
Foi submetida aos exames prévios exigidos por lei estadual antes de assumir a cadeira de ensino primário na recém-criada escola, que era mista por reunir alunos de ambos os sexos num mesmo ambiente escolar. As escolas da época se dividiam em três modalidades: do sexo masculino, do sexo feminino e mista.
Sua nomeação se deu por proposta do então Diretor Geral da Instrução Pública do Piauí, Theodoro Alves Pacheco, ao Governador do Piauí Álvaro Moreira de Barros Oliveira Lima, conforme portaria adiante transcrita:
“O Governador do Estado, sob proposta do Dr. Director Geral da Instrucção Pública, resolve nomear D. Joanna de Abranches Saraiva, para exercer effectivamente a cadeira mixta da povoação dos Altos.
Communique-se.
Palácio do Governo do Estado do Piauhy. Theresina, 11 de março de 1891.
Álvaro Morª. de Bos. Oliveira Lima”. (PIAUHY, 1891).
Pouco tempo depois de sua nomeação, Joanna de Abranches deixa a Escola Mista de Altos, passando a lecionar na cadeira de número 03 das Escolas Reunidas “José Lopes”, de Teresina, para a qual foi nomeada em 31 de março de 1891. Não se sabe se a mesma acumulou as duas escolas, dadas as dificuldades de locomoção de um local para outro.
Por ato de n° 566, de 09 de julho de 1919, assinado pelo Governador Eurípides Clementino de Aguiar, foi ela designada para a função de diretora da mesma escola:
“P n° 566
O Governador do Estado do Piauhy, resolve nomear a professora publica da 3ª cadeira das escolas reunidas desta Capital, D. Joanna de Abranches Saraiva, para o cargo de Directora das mesmas escolas.
Communique-se.
Palacio do Governo em Theresina, 9 de julho de 1919.
Dr. Eurípides Clementino de Aguiar
Pedro Borges da Silva” (PIAUHY, 1919).
Aposentou-se como professora pública da rede estadual de ensino.
No livro O Legislativo Piauiense: 1835-1985, o professor José Airton Gonçalves Gomes escreve à página 92 que na sessão de 13.07.1928
“Compareceu à Câmara uma comissão de professores liderada pela Sra. Joanna de Abranches Saraiva. Esta comissão foi recebida pelo Deputado Fernando Marques (1º secretário), que a conduziu para uma sala lateral do plenário e comunicou sua chegada ao presidente (deputado Epaminondas Castello Branco), oportunidade em que este foi ouvir suas reivindicações. A professora Joanna de Abranches explicou que o motivo de sua presença na Câmara devia-se ao fato de ter sido apresentado pelo governador João de Deus Pires Leal, o Joca Pires, um projeto para reduzir os vencimentos das professoras e adjuntas. Assim, em nome da classe, apelava à Câmara a não transformação do projeto em Lei, considerando as pesadas tarefas do magistério, o custo de vida, a dedicação em tempo integral, pelo que era desarrazoada a diminuição de vencimentos já por demais minguados”. (GOMES, 1985, p. 92).
Joana de Abranches faleceu em Teresina, onde está sepultada no Cemitério São Judas Tadeu, ao lado de seu esposo.
Portaria de nomeação de Joanna de Abranches
Saraiva como Diretora das Escolas Reunidas José Lopes
(1919).
e Maria Joaquina Saraiva (direita), respectivamente
filho e sogra de Joana de Abranches Saraiva, no
cemitério São José, em Altos.
Por Carlos Dias, professor e pesquisador/Portal Altos