Em agosto de 2012 está fazendo 45 anos de fundação do extinto Jornal de Altos. O aludido informativo, que circulou em duas fases (1967 e 1983), foi o primeiro impresso e o segundo a circular em nossa cidade, porém o primeiro a ser criado depois da emancipação política do município. Após este trabalho pioneiro, inúmeros outros jornais passaram a ser publicados.
Anterior a ele, tivemos A Tesoura, escrito a mão por Benedito Pestana. A Tesoura era um jornalzinho de caráter literário, crítico e noticioso; trazia as boas novas da criação de um grupo de teatro e rejubilava-se pela nomeação do Sr. Joaquim Pessoa como zelador do poço público do então povoado de Altos de João de Paiva. Ao que parece, foi lançado este único número, que veio a público há 110 anos, no dia 22 de abril de 2002.
Devem ter sido reproduzidos poucos exemplares, que circulavam de mão em mão entre os letrados da antiga povoação.
Primeira fase
Mensal, de caráter informativo e cultural, o Jornal de Altos iniciou sua primeira etapa em 27 de agosto de 1967, sendo redator-chefe o jovem estudante José Gil Barbosa Júnior, sob a direção da professora Maria Cleonice Sousa. Era impresso em Teresina. Foram colaboradores nessa fase inaugural, entre outros: Maria das Graças Sousa, Honório Saraiva Barbosa, Antônio Ferreira de Sousa Sobrinho, Luís Ferreira Lima, Carlos Said, João Benedito e Gilson Gil Barbosa.
Tinha uma abrangência a nível municipal e intermunicipal. Durante essa primeira fase os seus exemplares circularam na cidade de Altos e em Teresina, onde sua redação mantinha uma sucursal na Rua Arêa Leão, n° 797, zona norte.
Sua edição de número 04, encontrada em arquivo particular, data de 27 de novembro de 1967, informando-se que era vendido a NCr$ 0,20 (vinte centavos, na moeda Novo Cruzeiro).
Respondendo as críticas feitas por algumas pessoas, o editorial desta edição, sob o título Ponto de vista, página 04, dá como resposta aos faladores a transcrição de alguns tópicos do artigo A nossa opinião, estampado na edição inaugural, onde se lê que: “o Jornal de Altos é uma iniciativa de jovens que querem tão somente o progresso de nossa cidade. De jovens que querem elevar a cultura do povo altoense que está atrasadíssima”.
Falando de sua linha editorial e necessidade, afirma-se que o mesmo é informativo e cultural e “servirá para mostrar à nossa cidade, ao Piauí e ao Brasil os valores da terra de João de Paiva. Os valores jovens que algum dia, sem dúvida, dirigirão os destinos desta terra tão esquecida, tão triste, que agora volta a integrar devidamente a comunidade piauiense”.
Sobre seu pensamento político e ideológico, escreveu seu redator-chefe que o “Jornal de Altos é inteiramente apolítico. Não somos nem de uma ala nem de outra. Somos de Altos. Com a nossa fundação temos uma única missão a cumprir: queremos ser uma voz viva que contribua ardorosamente para o progresso de Altos”.
Como reportagens de capa desta quarta edição, o informativo traz as seguintes matérias: Prefeito aniversaria, Escoteiros agradecem, Quadra para ginasianos, Clube de Jovens, Primeiro Festival da Música Popular e uma nota de falecimento do Sr. Francisco Soares da Silva (Chico Rosa I). A página de rosto é encimada pelos seguintes registros: “Hoje, 32° aniversário da vitória das Forças Armadas sobre a Intentona Comunista de 1935” e “Despertai, juventude!”, em letras de destaque.
A página 02 é dedicada à cultura altoense, com crônicas e poesias. Nela lêem-se dois sonetos do poeta Honório Barbosa (Olhos sensuais e Se não fosse você...), a crônica Foliões da vida, de Maria das Graças Sousa e um texto intitulado História de Altos, lavrado em 1922 pelo então Intendente (Prefeito), Dr. Alfredo Gentil de Albuquerque Rosa. Na página seguinte, publica-se um Edital da Prefeitura Municipal de Altos sobre requerimentos de títulos de aforamento ao Prefeito Municipal, Dr. José Gil Barbosa, e nota sobre reunião para a fundação de um clube de jovens em nossa cidade.
O informativo teve vida curta, não se sabendo se houveram outras edições nesta primeira fase.
Segunda fase
A segunda fase do Jornal de Altos veio à luz em 1° de maio de 1983, com um caráter político e noticioso. Seu expediente estava assim constituído: editor e diretor-presidente: José Gil Barbosa Júnior; direção comercial: Antonia da Silva Paz; redação: José Olindo Gil Barbosa, Antonio Francisco Lúcio Vieira, Antonio Francisco Gil Barbosa e Gerardo Magela do Monte Lisboa; colaboradores: Marco Bona, Paulo Barbosa dos Santos Rocha, Renato Araribóia de Brito Bacelar e Roberto Gonçalves de Freitas Filho.
No editorial de abertura, seu editor e diretor assim o apresenta: “produto originário da criatividade e da boa vontade de um grupo de jovens altoenses, ainda na década de 60, teve nessa época uma duração efêmera, pois o momento não era propício a projetos dessa natureza. Agora, com nova estrutura, organizado em forma de empresa e com nova feição gráfica, alicerçado por matérias bem redigidas e de largo interesse para a comunidade, o mais novo órgão da imprensa mafrense veio para ficar”.
Acentuando que sua meta é ser canal de ligação entre as comunidades e municípios circunvizinhos, afirma o editorial que seu propósito é fazer “uma completa integração política, cultural, social, esportiva e [...] administrativa”, informando de maneira imparcial, abrindo suas páginas a todas as facções políticas.
A princípio, saía quinzenalmente, aberto ao recebimento de assinaturas, anúncios publicitários, artigos de opinião e críticas. Impresso na Gráfica e Editora Júnior, do jornal O Dia, de Teresina. O jornal mantinha uma sucursal em Campo Maior.
Esta fase do jornal pode ser caracterizada por sua transformação em veículo oficial de comunicação da Prefeitura Municipal de Altos, na administração José Gil Barbosa (1983-1988). Trazia em suas páginas desde as notícias internacionais até as locais, com sessões destinadas à cultura, esporte e lazer, entretenimento, política e opinião dos leitores.
Foram lançados, salteadamente, 08 números nessa etapa, datando o último do dia 05 de julho de 1986.
Tempos antes
Em 25 de agosto de 1979 passou a ser produzido pela Cooperativa Agropecuária de Altos (COOAGRO) o jornal alternativo A Cooperativa informa. Era noticioso e cultural, de interesse dos cooperativados e do homem do campo, bem como da comunidade em geral. Sua tiragem era feita em cópias mimeografadas, num total de 05 a 06 páginas, e os exemplares distribuídos à comunidade.
Dois anos antes da segunda fase do Jornal de Altos, circulava na cidade o Jornal Potiguá, fundado em 24 de janeiro de 1981. De interesse da classe universitária da cidade. Seguia a linha social, econômica, religiosa e noticiosa. Dizia-se apolítico e era publicado aos sábados e somente no período das férias.
No seu expediente, lê-se que era dirigido por Clóvis Raulino Neto, sendo diretor administrativo José Olindo Gil Barbosa, e editor João Gil Barbosa. Repórter policial: Domingos; repórter humorístico: João Filho; repórter econômico: Clóvis Francisco Ribeiro Raulino (Caroba); repórter de rua: Antônio Francisco Gil Barbosa.
Saíram alguns números, cuja elaboração era feita em cópias mimeografadas em folha única, num total de duas páginas, que eram vendidas a cinco cruzeiros.
Tempos depois...
Somente três anos após o surgimento do Jornal de Altos é que a cidade passa a contar com outro veículo impresso de comunicação: jornal O Progressista de Altos, órgão informativo da Associação Liberal e Social Altoense (ALSA). Passou a circular em fevereiro de 1986, com impressão em Teresina.
Noticioso, crítico e cultural, tinha como diretor e editor Solimar Santos Vasconcelos. Colaboradores: professor José da Fonseca Castelo Branco, professora Iveuta de Abreu Lopes, professor Francisco Ferreira Filho (Chiquinho Cazuza), professor Manoel Severino da Silva, Honório Saraiva Barbosa, Anison Soares de Almeida e outros.
Circularam apenas cinco números d’O Progressista, sendo o último em número especial de 12 de outubro de 1986, homenageando a cidade de Altos pelos seus 64 anos de autonomia político-administrativa.
Com o passar do tempo, vários outros veículos de comunicação impressa foram surgindo. Até fins do século XX os jornais alternativos e revista impressos surgidos após a circulação do Jornal de Altos foram:
- Na década de 1980: O Altoense (19.03.1987), histórico e cultural;
- Na década de 1990: Imprensa Escrita (setembro de 1991); Tribuna de Altos (18.02.1992); Jornal do PMDB (maio de 1992); O Povo Altoense (29.05.1992); Revista Altoense (08.04.1994), a primeira e única da cidade, informativa e cultural; Impacto (05.05.1995); Força Jovem (29.10.1995); O Repórter (abril de 1996); Boletim da Paróquia de São José (29.12.1996); e Gazeta Municipal (fevereiro de 1997).
- Na década de 2000: PT Saudações (17.06.2000); e Informativo Parlamentar (setembro de 2000), ambos de caráter exclusivamente político.
O primeiro ano do século XXI vai trazer para nossa cidade vários outros canais impressos de comunicação, dentre os quais citamos: Tribuna do Piauí (01.01.2001), órgão oficial da Prefeitura Municipal de Altos, na administração Elvira Raulino; A Voz do Arauto (março de 2001), primeiro informativo ligado à maçonaria, de interesses gerais; Ferroada (10.04.2001), substituto do PT Saudações; Altos, Lá! (20.08.2001), informativo da Secretaria de Cultura, Turismo, Esporte e Lazer de Altos; Rotary Hoje (outubro de 2001), editado pelo Rotary Club de Altos; O Sênior (março de 2002), editado pelo Capítulo Francisco Rosa Filho – 411 da Ordem De Molay de Altos para o Brasil; Mensageiro Altoense (maio de 2002), que depois teve seu nome mudado para Mensageiro O Altoense; Informe Socialista (13.09.2003), órgão do Diretório Municipal em Altos do Partido Comunista do Brasil; O Marimbondo (2003), órgão da Prefeitura para rebater as críticas do Ferroada; Fala Alto (2004); Informativo Pio XII (17.02.2005); Monte Horebe (julho de 2005); Informativo Leal (13.03.2008); Gazeta Literária (novembro de 2008); O decano (27.11.2008); Informativo SINDSERM (2009), do Sindicato do Servidores Públicos Municipais de Altos; Informativo Boca de Barro (08.10.2009); e Informe Portal Altos (junho de 2011), jornal impresso publicado pelo editor do Portal Altos, Sérgio Morais.
Diversos outros jornais apareceram neste intervalo e depois dele, a maioria dos quais de vida transitória. Temos atualmente circulando os jornais Folha Única (115ª edição), de interesses gerais, crítico e noticioso, e O Jornal, informativo e cultural lançado em março de 2011, que se encontra atualmente em sua 4ª edição. Este jornal possui até uma versão digital na internet, disponível no endereço eletrônico ojornal2012.blogspot.com.br.
Emissoras de rádio
A primeira emissora de rádio da cidade foi a Rádio São José dos Altos (1987), de propriedade da jornalista Elvira Raulino. Depois seguiram-se várias outras, como Rádio João de Paiva AM (1988), Nativa FM, FM Vale do São Francisco, Comunidade Livre, Pacífica FM, CMN Comunicações (FM a cabo) e algumas outras de vida efêmera.
Anterior à instalação das rádios, contávamos com a alegria das famosas amplificadoras, utilizadas como instrumento publicitário e meio de entretenimento da comunidade, com avisos comunitários, notícias, oferecimento de músicas e noticiário local e esportivo. Uma das que fez muito sucesso e marcou época foi A Voz das Flores, do Sr. Manoel Sales, vulgo Manoelzinho Barbeiro, localizada no bairro Batalhão, em frente à Unidade Escolar Altina Pestana.
Relembramos aqui a amplificadora do Bar das Moças, de João Simeão Filho, e a do Sr. Pedro Sales, que fazia a divulgação de sua loja de tecidos 3 B (Bom, Bonito e Barato). Havia ainda amplificadoras de cunho religioso, como a da Paróquia de São José, instalada pelo Padre Machado, e a da Igreja Católica Ortodoxa, comandada pelo sacerdote Francisco das Chagas Silva (Padre Beleca), no bairro Batalhão, onde atualmente se encontra funcionando a Pré-Escola Municipal Os Baixinhos.
Importância da imprensa
O papel da imprensa, no que diz respeito ao desenvolvimento sócio-cultural da cidade de Altos, foi bastante significativo, pois mais do que repassadora de informação, manteve grande articulação social, política, econômica e cultural e estabeleceu um íntimo elo de ligação entre o comunicador e a comunidade.
Podemos dizer que a imprensa altoense tem cumprido um importante papel, fomentando discussões, abrindo suas páginas à livre expressão do leitor, divulgando críticas e reivindicações da população, lançando ao conhecimento do público a semente da cultura, através da publicação de contos, crônicas, poesias e relatos sobre a história de nossa pequenina cidade.
Por Carlos Dias, professor e pesquisador