O suicídio representa um sério problema de saúde pública. Em termos gerais, nos últimos 45 anos, a mortalidade por suicídio aumentou 60%. Nesse período, os maiores coeficientes de suicídio mudaram da faixa mais idosa da população para as faixas mais jovens. Alguns autores afirmam que, para cada óbito por suicídio, há no mínimo cinco ou seis pessoas próximas ao falecido cujas vidas são profundamente afetadas emocional, social e economicamente.

A palavra suicídio tem origem no latim, na junção das palavras sui (si mesmo) e caederes (ação de matar). Esta conotação é especifica a morte intencional ou auto-inflingida. O suicídio é um ato voluntário onde o individuo possui a intenção e provoca a própria morte através de atos como tiros, envenenamento ou enforcamento; ou por omissão (recusa em alimentar-se, por exemplo).

Estudiosos afirmam que o suicídio pode ser compreendido como uma solução falida e mal adaptada de uma crise provocada pelo estresse real em uma pessoa psiquicamente predisposta. Ressaltam ainda que suicídio não é um problema pessoal, individual. De Brutus a Vincent Van Gogh, de Cleópatra a Getúlio Vargas, muitos cometeram suicídio, por um motivo ou por outro.

O ato de suicidar-se não é aleatório ou sem finalidade, mas algo premeditado que tem por finalidade a fuga de um problema ou de uma crise que está causando a um indivíduo sofrimento insuportável. Normalmente a crise pode ser associada a necessidades frustradas, sentimentos de desesperança e desamparo, conflitos ambivalentes entre a sobrevivência e um estresse agudo, uma diminuição acentuada das opções percebidas e uma necessidade de fuga levando uma intensa angústia.

Parece paradoxal, porém observou-se que a pessoa que comete um ato de suicídio não tem consciência da morte como fim da vida. Os que pensam em suicídio não querem de fato matar a vida e dar fim a existência, mas matar a dor emocional, a angústia, o desespero que abate suas emoções.

Percebe-se que o suicídio permanece um desafio sem ter uma resposta definitiva e exata. Compreende-se que não há uma única resposta porque o caminho do suicídio é o da ambiguidade. Nele, vida e morte se encontram, se complementam, se contradizem, repetindo este movimento infinitamente como as definições do próprio termo em torno de ódio e amor, coragem e covardia, entre outros. Isto comprova a necessidade de uma discussão profunda sobre o tema que não pode ser visto com algo isolado ou individual, mas como algo complexo que atualmente é considerado um problema de saúde pública.

Algumas pesquisas contribuem para que o suicídio seja melhor analisado. Vários departamentos públicos e privados procuram dados para que as taxas do suicídio cheguem à população de forma precisa. Isto é notório a partir da pesquisa “Mapa da Violência”, divulgada pela Organização dos Estados Ibero-Americanos (OEI), apontando o Piauí como o estado brasileiro onde se mais cresceu o índice de suicídio em um período de dez anos. O Estado saltou da antepenúltima posição em 1994, para a décima em 2004 com uma taxa de 5,5 mortes.

De acordo com os dados do levantamento da OEI, a taxa de suicídios no Piauí cresceu mais ainda entre os jovens, com idade que vai dos 15 aos 24 anos. Em 1994 esse índice não chegava a 4 mortos a cada grupo de 100 mil jovens. Após dez anos a taxa subiu para 7,8, fazendo com que o Estado saísse da 24ª para a 8ª posição. O líder é Roraima onde 15,1 jovens se suicidam a cada 100 mil.

A Organização Mundial da Saúde (1994) adverte que o suicídio ocupa o terceiro entre as principais causas de morte no mundo. Entretanto, o Brasil não está na lista de países com altas taxas de suicídio, atualmente. Porém, não existem dados estatísticos preciosos atualizados.

Segundo dados do Ministério da Saúde, o Piauí é o estado campeão em suicídios de mulheres. Entretanto, se for analisada separadamente, a cidade de Altos registra o contrário. Ultimamente, ocorreram mais casos de suicídios masculinos que são na maioria jovens entre 20 e 30 anos.

A partir de um estagio em Psicologia no CAPS (Centro de Atenção Psicossocial) da cidade de Altos-PI, no ano de 2008, em contato com um grupo de famílias, percebeu-se que o tema suicídio foi muito enfatizado pelos familiares, corroborando assim com o alto índice de suicídio na cidade. A partir de então, partiu-se ao interesse de pesquisar o tema.

Segundo o último senso do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), Altos possui 38 mil habitantes sendo que a maioria trabalha e estuda na capital (Teresina) que fica há 40 Km.

De acordo com o IML (2007) houveram 08 suicídios em Altos em aproximadamente 15 meses. Comparado ao número de habitantes (38 mil), o número de suicídios, nesta cidade, é assustador, cerca de 18 por 100 mil habitantes. Acima, portanto da média mundial de 14,5 e da média nacional de 4,7 casos para cada grupo de 100 mil habitantes.

A princípio ressalta-se que a realização deste trabalho mobilizou preocupação e cuidado com os familiares das vítimas, um temor em suscitar neles sentimentos dolorosos em decorrência da perda, assim como temia-se não saber como reagir e conduzir a coleta de dados caso isto acontecesse, já que foi observado a dificuldade destes familiares em falar do assunto. Realmente, no decorrer do processo percebeu-se o quanto era delicado trabalhar o tema, pois os sentimentos afloravam por parte dos familiares, comprovando assim que a preocupação era válida. Todavia, observando-se as narrativas dos sujeitos sobre suas experiências com pessoas que cometeram o suicídio, verificou-se que a aflição, o medo, a culpa, a raiva, a tristeza e a preocupação emergiam ao falarem sobre o assunto, enfatizando, assim, toda descrição ora exposta pelos autores que abordam o tema quando afirmam que há uma mistura de sentimentos de acordo com a pessoa e o tempo do acontecimento.

Verificou-se que de fato havia uma enorme incidência de casos de suicídio na cidade de Altos de acordo com o I. M. L (Instituto Médico Legal), quando afirma que 08 pessoas se suicidaram na cidade de Altos em, aproximadamente, 15 meses. É válido ressaltar que a grande maioria das famílias ainda está profundamente abalada com o ocorrido e muitos de seus membros precisam de apoio médico e/ou psicológico para conseguir conviver melhor com esta realidade.

Nas narrativas dos sujeitos sobre suas experiências com pessoas que cometeram o suicídio, verificou-se que a aflição, o medo, a raiva, a tristeza e a preocupação emergiam ao falarem sobre o assunto, sendo que a maioria das famílias, independente do tempo em que o suicídio ocorreu, ainda encontra-se abalada e confusa com relação a sentimentos e culpas.

Por fim, constatou-se que existiu certo descaso por parte das autoridades municipais daquela época, já que essas famílias não eram visitadas ou assistenciadas para terem apoio adequado visando assim proporcionar-lhes melhor qualidade de vida. Além disso, não existem na cidade dados que colaborem com este tipo de estudo, pois segundo informações do responsável pela Secretaria Municipal de Saúde, os dados são de responsabilidade da Secretaria de Saúde do Estado, porém os que estão disponíveis no site são apenas os anos de 2005 e 2006 o que dificulta muito este tipo de pesquisa.

Fonte: Djacira Vieira, Psicóloga Clínica