O professor e artista plástico altoense Cacá Ventura vem alcançando grande projeção com suas telas a óleo. Seu trabalho já integrou feiras no Piauí, Pernambuco e outras localidades do território nacional.
Sua pintura é marcada por traços incisivos e de tons fortes, que retratam a sensibilidade e inquietação do artista frente à realidade e crueza que nos rodeia, com todas as suas mazelas e hipocrisias religiosas e sociais.
É de sua autoria o quadro Lampião e Maria Bonita, que ilustra a capa do folheto de cordel O casamento de Lampião e Maria Bonita, de minha autoria, publicado em dezembro de 2012. Cacá também já estampou seu belíssimo trabalho por duas ocasiões na capa da Revista De Repente (edições de n° 118, de novembro, e 119, de dezembro de 2012), esta um veículo cultural de circulação nacional.
Uma entrevista
Campo-maiorense de nascimento, mas radicado em Altos desde a mais tenra idade, Francisco José Alves da Silva, o Cacá Ventura, veio à luz do mundo em 26 de agosto de 1978. É um amante da arte.
Formado em Licenciatura Plena em Educação Artística, com habilitação em Artes Plásticas. Esteve por 03 vezes participando do Salão de Artes plásticas de Teresina.
Em um descontraído bate-papo ocorrido na noite de 4ª feira, 16 de janeiro de 2013, Cacá Ventura nos falou acerca de sua inquieta e fértil produção. O texto, que agora trazemos a lume, é do seguinte teor:
“Toda expressão plástica tem um segmento, e não posso negar que mergulho no psiquismo do Surrealismo e hora por outra me pego dentro do Cubismo. Não faço cópia, faço o meu original, sintetizado com essas correntes artísticas. Muitas questões me rodeiam, dúvidas e o próprio segmento social do Piauí e do mundo. Tenho a alma inquietante, nervosa, mas a camuflo no corpo quieto e observador. Tudo isso alio à minha forma de desenhar e pintar, do ponto, da linha, da perspectiva, das nuances e dos 'gritos' da cor.
Como todo artista, sou insatisfeito com minha própria arte: quero mais – quero chegar um dia ao hiper-realismo para depois deformá-lo; até lá, crio e expresso da melhor maneira possível. Não é fácil ser um artista verdadeiro – dói ver as mazelas, as mentiras e as sujeiras do mundo. Artista verdadeiro se importa – mesmo que demostre o contrário. Artista verdadeiro sabe falar a verdade sem medo.
A arte é expressão do conhecimento e das experiências da vida. O que a sociedade vê como fértil ou por vezes tolo, é a representação artística de uma época. Muitos não entendem a arte contemporânea, mas logo ela se torna cotidiana num futuro breve.
O Brasil está mergulhado de vez no capitalismo. Isso me entristece, assim como o governo dar mais apoio nas Universidades à tecnologia do que necessariamente à arte. Vejo um povo ocioso, triste e que por vezes sente-se tolhido pelo próprio sistema. A escola pública dá muita ênfase à repetição; falo a escola, pois minha formação é Professor e a maioria do povo brasileiro não tem condição de dar uma boa educação aos seus filhos; o governo tem sua parcela de culpa, por não desenvolver seu povo e dar melhores investimentos à escola pública.
O Vereador
Um país forte e soberano não é aquele que sabe chutar a bola ou dançar o samba. É um país que tem seu povo crítico, decidido e informado; um povo sem medo. Um povo de certezas.
Eu acredito no Brasil – um dia vai deixar de ser utopia. Da mesma forma, acredito em mim. Acredito no meu potencial, na minha arte, nos amigos que me cedem um espaço, um olhar crítico ou uma simples admiração.
Escolhi um caminho difícil – até mesmo em países desenvolvidos nunca foi fácil ser artista plástico. Quem disse que eu gosto do fácil?....Fama? Isso é para os tolos sem conhecimentos. Quero ser uma parcela da contribuição da cultura local da minha cidade de Altos – do meu Piauí – do meu Nordeste”.
A cabra prostituta
Bodes antropomórficos e santos católicos
A coleção Bodes antropomórficos por ele desenvolvida é uma alusão crítica ao preconceito sulista em relação ao nosso estado. Em conversa comigo, Cacá relatou que os brasileiros, especialmente do sudeste, interpretam mal a cultura piauiense, dizendo que só comemos carne de bode.
“Retorno a eles a minha ultravalorização nordestina em forma de bodes humanos com o cotidiano, ou seja, o bode vereador, a cabra prostituta, a família bode, o macumbeiro carneiro. De certa forma, assusta - esta é a intenção”, afirma Ventura.
Percebe-se no artista um forte cristianismo católico, uma vez que é esta religião muito presente no Piauí e por ter uma cultura extremamente dominante em nosso território. Isso o levou a reproduzir em suas telas os santos que povoaram o seu imaginário de criança –“um mundo antes visto com muita magia e segredos”, conforme o mesmo assevera ao falar desta coleção, onde se destacam as pinturas de São Jorge, São Sebastião, A Santa Ceia, São José, Santa Luzia e Maria diferenciada.
Os santos mais cultuados nos lares católicos aparecem em sua obra, bem ao estilo do artista, com pinceladas calmas e o violento predomínio de linhas algumas vezes retas.
Produção na atualidade
Sua atual coleção intitula-se Brasil 2013 e mostra a miscigenação integrante do painel cultural brasileiro, com seus vários elementos constitutivos de nossa gênese.
Lampião e Maria Bonita
Contatos
Facebook: caca_322@msn.com
E-mail: cacalves2006@yahoo.com.br
Telefone: (86) 98316440
Por Carlos Dias, professor e pesquisador