As festividades religiosas de São José, padroeiro da cidade de Altos, constituem-se num dos maiores momentos de fé religiosa de nosso município e um dos maiores do centro norte piauiense. A origem da devoção está ligada a chegada do pioneiro João de Paiva Oliveira, que – segundo reza a tradição oral – trazia entre seus pertences uma imagem do santo carpinteiro, que é padroeiro do estado do Ceará, terra natal de nosso fundador.
Com sua chegada, passou a celebrar festejos ao santo, provavelmente no dia consagrado à sua entrada na corte celeste – 19 de março. Com a aportagem de novas famílias e o consequente crescimento da povoação, foram sendo introduzidas nos lares as comemorações religiosas ao santo esposo de Maria e pai adotivo de Jesus.
Há longa data, a festa vem acontecendo em nossa cidade, com grande afluência de pessoas dos mais diversos e longínquos recantos do Piauí e outros estados da federação nacional, inclusive boa leva de filhos deste torrão que se encontram ausentes retornam a Altos para prestigiar este valioso momento de efervescência religiosa da comunidade altoense.
Tenho comigo um acervo considerável de convites/programação dos festejos que remonta ao distante ano de 1970, vindo até os dias atuais. Mas em pesquisa no Arquivo Público do Estado (Casa Anísio Brito), de Teresina, deparei-me com uma preciosidade ímpar: a estampa de um convite para os festejos de 1937, publicada na página 10 do jornal Diário Oficial do Estado do Piauí, ano VII, edição den° 47, datado de Teresina-PI, 2ª feira, 01.03.1937.
Mesmo não apresentando capa - posto que naquela época as coisas eram ainda muito primárias e artesanais -, o texto traz a lista de todos os responsáveis pelas noites, com seus respectivos homenageados, juízes e juízasdo período festivo. E foi muito interessante o enlevo que tomou conta de mim, imaginando como seriam as noites dos festejos naqueles 77 anos atrás, com as presenças de ilustres personagens e velhos coronéis de nossa história, compartilhando conosco da atualidade aquelas noites animadas pela voz vibrante do Padre Acylino Baptista Portella Ferreira, usando somente a garganta para fazer a prédica de seus sermões e interagindo na parte social da festa.
Abrindo o convite, o texto assim relata: “A festa de São José, em Altos, este ano, revestir-se-á de desusado brilhantismo dado o interesse que vai despertando no seio do povo católico daquela importante localidade, hoje com a facilidade detransporte de que dispomos, transformada em um prolongamento da capital”.
O novenário daquele ano ficou assim paraninfado:
1ª noite: José Craveiro, João Victorino Neto, Antonio Teixeira, Francisco Victorino de Moraes, José Cleto de Sousa, Antonio Baptista de Sousa, Pedro Marques, Galdino Cardoso da Silva e Archelau Medina.
2ª noite: Miguel Telésforo do Valle, Francisco Sousa Sobrinho, Manoel Ribeiro da Silva, Francisco do Porto Vianna, Paulo Nunes de Oliveira, Emygdio Saraiva Barbosa, Salustiano Ribeiro (Salú) e João Holanda Sobrinho.
3ª noite: João Simeão da Silva, Odorico de Almeida Saraiva, Adail Raulino, José Francellino de Morais, Waldemir Barbosa, Francisco Ferreira de Sousa (Chico Cazuza) e Cândido Porto Vianna.
4ª noite: Anísio Ferreira Lima, Francisco Soares da Silva (Chico Rosa), Giovanni Martins Viana, José Tibúrcio do Monte, José Fernandes de Carvalho (Zé da Prata), João Justiniano Barbosa (João André), João Moraes de Lemos e Estanislau de Paiva Pinto.
5ª noite: Mário Raulino, Antonio Ribeiro de Vasconcelos, Antonio Pereira Cavalcanti (Cavalcanti Rico), Luiz Marques de Holanda, Clóvis Raulino e Francisco Raulino.
6ª noite – dedicada às senhoras.Comissão para angariar donativos: Maria José Barbosa, Lydia de Almeida Mendes e Maria José Martins.
7ª noite – dedicada às senhoritas. Comissão para angariar donativos: Cecy Almeida, Stael Castelo Branco, Justina Ferreira e Raimundinha Sousa.
8ª noite – dedicada aos artistas. Comissão para angariar donativos: Pedro José Diniz, Pedro José da Silva e José Gonçalves da Costa.
9ª noite – dedicada à Inspetoria. Presidente: Dr. Bellino Lameira Bittencourt. Auxiliares: Pedro Neto, Sá Barreto, José Costa e Silva, Moysés Castelo Branco, Lourival S. Rosa e João Baptista.
Juízes do Festejo: Coronéis Laurindo de Castro Lima, Ludgero Raulino da Silva e Sinvalde Castro.
Juízas do Festejo: Senhoras Bellino Bittencourt, Ignez da Costa Teixeira Rosa (esposa do Dr. Alfredo Gentil de Albuquerque Rosa) e Hermelinda de Carvalho Lima (esposa de Laurindo de Castro Lima).
Casal Laurindo de Castro Lima e Hermelinda de Carvalho Lima,
juízes dos festejos de 1937
As espórtulas angariadas durante os festejos, oriundas dos leilões, esmolas depositadas no cofre da igreja e outras doações foram destinadas à conclusão da obra de ampliação da igreja de São José.Foram arrecadados 6.000$000 (seis contos de réis), que foram entregues ao Padre Acylino Portella, Vigário da igreja paroquial de Nossa Senhora do Amparo com assistência na freguesia e encarregado das obras da igreja de Altos, então uma pequena capela.
Igreja Matriz de São José, em 19.03.1949 Padre Acylino Portella
Por Carlos Dias, professor pesquisador