05 de novembro é consagrado ao Dia da Cultura. A escolha da efeméride recai na data de nascimento do jurisconsulto, escritor, jornalista e político Rui Barbosa de Oliveira, considerado figura apostolar da cultura brasileira, nascido em Salvador, na Bahia, a 05 de novembro de 1849 e falecido em Petrópolis, no Rio de Janeiro, em 1923.
Cultura é o conjunto de características humanas não inatas e que se criam e se preservam ou aprimoram através da comunicação e cooperação entre os indivíduos em sociedade.
Assim, são manifestações culturais: literatura, escultura, artes plásticas em geral, folguedos, tradições religiosas, etc.
Nossa literatura
A cidade de Altos tem um grande potencial de cultura, que precisa ser melhor explorado. Hoje a sua maior representação está na literatura.
Nossa literatura é muito rica e variada nos mais diversos gêneros: poesia, prosa, historiografia, produção científica e outras áreas, possuindo variado número de escritores de grande projeção no Piauí e por este Brasil afora. A exemplo, podemos citar: Zé da Prata, Menezes y Morais, José Paz e Silva, Ignês Sousa, etc.
Para marcar o Dia da Cultura na cidade, destaco neste ensaio alguns expressivos nomes de nossas letras.
José Fernandes de Carvalho (Zé da Prata): Altos, 01.06.1871; Altos, 14.03.1949.
Zé da Prata
Poeta, sanfoneiro, trovador e repentista. Figura em importantes livros de literatura e é estudado a nível de Mestrado em Literatura. Patrono da cadeira n° 34 da ALVAL – Academia de Letras do Vale do Longá.
Sobre sua personalidade e produção poética foram publicados dois livros: Zé da Prata – o poeta da sátira, de Zózimo Tavares (02 edições: 1995 e 2006) e Prata de lei, de Carlos Dias (2011).
Benedito Pestana (B. Pestana): Altos, 20.05.1884; Teresina, 30.03.1965.
Poeta e jornalista. Formado em Farmácia. Sócio-fundador do Clube Literário 12 de Outubro. Colaborou nos jornais O Norte, O Globo (RJ), Andorinha e Almanach Piauhyense.
Em sua homenagem, foi criada em 2002 a Comenda do Mérito Benedito Pestana, por ocasião do centenário da imprensa altoense.
Não deixou livro publicado, estando sua produção literária esparsa em jornais e revistas da época.
Esplêndida
Quando ela surge altiva e desdenhosa
A meiga brisa sopra terna e langue;
O lírio, a rosa, a dália e o Illang-illang
Perfumam-lhe a fronte alva e majestosa!
Palpita a carne infrene e capitosa;
Nas veias brame, ulula e estruge o sangue,
E a multidão confusa fica exangue,
Estática de vê-la tão formosa.
E passa sobranceira entreabrindo alas...
Cercam-lhe o colo adornos do Oriente
Rubis, safiras, pérolas e opalas.
Tudo a venera: a própria dor se acalma
Ante essa que será eternamente
A vencedora eterna de minha alma.
B. Pestana
Honório Saraiva Barbosa: Altos, 29.07.1909; Teresina, 16.12.1992.
Poeta e cronista. Refinado sonetista.
Honório Barbosa
Seu livro Coisas $em valor foi publicado postumamente, em 2001. Trata-se de uma demonstração autêntica de sentimentalismo, amor à natureza e encantamento literário, “um rosário de contas líricas do mais alto teor artístico”, no dizer do grande mestre A. Tito Filho, ex-presidente da Academia Piauiense de Letras.
Colaborou no jornal O Altoense e diversos outros jornais, como A Luta, de Campo Maior.
Ignês Sousa Pereira: Altos, 21.01.1919; Altos, 05.01.2006.
Poetisa, cronista e memorialista. Deixou valioso acervo de poesias e crônicas, parcialmente publicadas no jornal O Altoense e na Revista Altoense.
Foi servidora da saúde e professora pública da alfabetização de adultos.
O mar e o lago
Águas revoltas, mar encapelado,
Abismo... imensidão...
Murmúrio de vagas ondulantes
Incessantes...
Poema de amargor
Ventura delirante
Do meu tempestuoso
Primeiro grande amor.
Amar, sofrer, chorar,
Angústia de querer
De perder alguém,
E ter que esperar.
Que o tempo...
Médico amigo e caridoso
Venha piedoso
O lacerado coração cicatrizar.
Face lisa e espelhante
De águas tranquilas,
- O contraste das vagas marulhantes.
Lago azul, profundo, de águas mansas
Um poema de paz e de esperanças
Mirei-me no espelho dos teus olhos
E a fé adormecida reviveu.
Intenso, grandioso, sem escolhos
Um novo amor nasceu,
Cresceu, viveu e perdura
- Amor, só com amor tem cura.
Ignês Sousa
Manoel Gonçalves da Costa (Mané Tomé): Altos, 10.05.1923.
Poeta popular e repentista. Servidor aposentado da Comarca de Altos. Colaborou no jornal O Altoense.
Mané Tomé
Publicou em 1984 o folheto em cordel O fracasso do PDS na terra de João de Paiva. Possui vários poemas inéditos. É uma grande reserva cultural de nossa cidade.
Em 1981, teve despertada sua veia poética. Admirado com o súbito aparecimento da poesia em sua vida, exclamou:
Agora estou me lembrando,
Um detalhe ia escapando:
Meus anos são 58
Completos, vão se passando...
Eu nunca tinha rimado,
Mas agora estou rimando.
Em poema denominado Poesia popular, assim descreveu sua terra e sua gente:
Altos é capital da manga
Terra de cabra feroz.
O Altoense tem na veia
Puro sangue de herói.
Altos, minha terra bendita,
Berço de mulher bonita,
Uma herança de nossos avós.
Nesse mundo ninguém tem
Tanta manga como nós.
Antonia Ribeiro de Almeida (Totônia Almeida ou Dindinha): Altos, 28.11.1925.
Totônia Almeida
Poetisa, cronista, memorialista e professora. Colaboradora do jornal O Altoense, da Revista Altoense e do Almanaque da Parnaíba.
A seu respeito e de sua irmã Maria Ribeiro de Almeida Araújo organizei o livro Almas irmãs, ainda inédito, que reúne produções em poesia e prosa destas duas literatas altoenses.
Velha árvore
Na margem da estrada,
Ao longo do caminho
Há uma árvore velha, meio secular
Em que a agrura dos verões da vida
Deixaram-na em desalinho.
A sua existência nunca foi notada
O anonimato foi a sua sina
Ninguém lhe olha com afeto
Ninguém lhe fala com carinho.
E a velha árvore sente
A indiferença do destino.
Pobre árvore sempre pouco amada
Mesmo no território teu
Permanece isolada.
E esta velha árvore
Sabem que é?
- Sou eu.
Teresina, 26.08.1977
Moisés Siqueira Moraes (Frei Moisés): Altos, 10.01.1933.
Frei Moisés
Frade Capuchinho. Padre Secular. Professor, escritor, historiador, músico e compositor.
Licenciado e especializado em Filosofia. Esteve em missão em Moçambique, na África.
Escreveu vários opúsculos de historiografia da Igreja no Piauí: Breve histórico da Província do Ceará e Piauí (1991), Evangelização na Diocese de Parnaíba (1994), O rosto missionário da Igreja no Piauí (1995), Por uma Igreja toda missionária e ecumênica – missão popular (1999), Província São Francisco das Chagas dos Capuchinhos do Ceará e Piauí (2000) e A oração pessoal e comunitária a partir da Bíblia e da vida no espírito de Jesus Cristo (2010).
Francisco Ferreira Filho (Chiquinho Cazuza): Altos, 15.01.1938; Altos, 03.09.2001.
Chiquinho Cazuza
Professor e historiador. Poeta, jornalista, contista e editor. Fundador e redator-chefe do jornal O Altoense e da Revista Altoense. colaborador em vários jornais e revistas de Altos, Teresina, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul. Figura em importantes antologias, como Passarela de escritores e Antologia Del’Secchi 9.
Publicou em 1995 o livro Cotidiano & memória.
Patrono da cadeira n° 39 da Academia de Letras do Vale do Longá – ALVAL.
José Paz e Silva: Altos, 01.11.1939. Já falecido.
Graduado em Teologia, Filosofia e Sociologia. Romancista, ensaísta, contista e cronista.
Foi assessor de cooperação internacional e chefe das assessorias técnicas da Secretaria de Planejamento do Piauí – SEPLAN.
Publicou o livro Avião, Beto, Manicaca – estórias dum nordestino arretado que queria ser Presidente e virou profeta. Este seu livro de estréia apresenta um misto de narrativa, humor e reflexão.
Trata-se de um romance pitoresco, que reconta aspectos da história recente do país, num misto de ficção, historiografia, análise sociológica e política. Nele o autor tem participação ora onisciente, ora ausente.
Possuía três outros livros inéditos: Meia volta vou-ver, Até que a morte nos separe e Coronel de Barranco.
Era um escritor do porte de Esdras do Nascimento, Assis Brasil e O. G. Rego de Carvalho.
José Gil Barbosa Júnior: Teresina, 25.03.1950.
Advogado, Promotor de Justiça aposentado, professor, jornalista e escritor. Prosador de elevado quilate.
Colaborou nos jornais O Globo e Correio da manhã, do Rio de Janeiro. Foi coordenador geral do DECON no Piauí.
Possui artigos publicados em revistas brasileiras especializadas em direitos do consumidor, como a Pró-consumidor (Rio de Janeiro), além de coluna sobre o tema nos jornais Diário do Povo (Teresina) e O Promotor.
Tem artigos publicados nas revistas Consultor jurídico e De repente, de Teresina.
Publicou em 2002 o livro O consumidor não é palhaço – temas em defesa do consumidor. Possui outros livros inéditos, como Introdução ao direito do consumidor e Discursos de aprendiz.
Francisco Ferreira da Silva Neto: Teresina, 05.02.1951.
Professor, geógrafo e escritor. Pós-graduado em Geografia Humana pela Pontifícia Universidade Católica de Belo Horizonte-MG.
Silva Neto
Atuou em várias escolas da rede pública e privada de Teresina, dentre as quais: Liceu Piauiense, Colégio Exatus, Colégio Sagrado Coração de Jesus, Sinopse e CPE. Professor universitário pela UESPI.
Foi Superintendente do Complexo Escolar de Altos (1987-1991). Desportista.
Publicou os livros: História e geografia do Piauí, em co-autoria com Valdir Soares dos Santos, e O Piauí e sua geografia em seus aspectos físicos, humanos e econômicos (2001). Tem inédito o livro Coisas de colégio.
José Menezes de Morais (Menezes y Morais): Altos, 29.07.1951.
Menezes y Morais
Professor, jornalista, historiador, poeta, romancista e contista.
Presidiu o Sindicato dos Escritores do Distrito Federal, em Brasília.
Publicou: Laranja partida ao meio (1975), Poemas do sufoco (1986), O suicídio da mãe terra (1984), Pássaros da terra com paisagens humanas, A balada do ser e do tempo (1986-87), O rock da massa falida, Por favor, dirija-se a outro guichê (2001), Diário da terra & cenas da cidade sitiada, O livro das canções de amor & outros cantares de igual teor e diversos outros.
Dentre as obras coletivas que figura, estão: Tudo é melhor que nada, Piauí, terra, história e literatura, Descartável, Poetas brasileiros hoje (1984), Literatura brasileira – volume I, 27 po(rr)etas, Aviso prévio, Poemas, O rio, Contos, Cirandinha, Outros poemas, etc.
Foi o patrono do I Salão do Livro de Altos – SALIALTOS, realizado em 2009. Tem poemas traduzidos para o espanhol.
João Kennedy Eugênio: Altos/Teresina, 01.11.1964.
Professor, historiador e escritor.
Mestre em História Social e Pós-Doutor em História. Professor da Universidade Federal do Piauí.
Profundo estudioso de quadrinhos e da obra de Sérgio Buarque de Holanda.
Tem artigos publicados na revista Cadernos de Teresina e Espaço-tempo.
Autor, dentre outros títulos, de Histórias de vário feitio e circunstância (2001), Gente de longe (co-autoria), Itinerário existencial e poético de H. Dobal, Ritmo espontâneo (2011).
Com este último lançamento, que é sua tese de doutorado transformada em livro, ganhou o Prêmio Jabuti, a maior premiação literária do Brasil.
José Gonçalves da Costa Gomes: Altos, 10.02.1965.
José Gonçalves
Professor, conferencista, pastor evangélico da Igreja Assembléia de Deus.
Publicou: Missões – o mundo pede socorro!, Davi (em co-autoria), Por que caem os valentes?, As ovelhas também gemem, Defendendo o verdadeiro Evangelho e outros.
Grande apologista. Escreve na revista Lições bíblicas da Escola Bíblica Dominical a nível de Brasil da igreja à qual pertence.
Seus livros são editados pela CPAD – Casa Publicadora da Assembléia de Deus, editora nacional.
Antonio Francisco Rodrigues (Toni Rodrigues): Piripiri, 08.06.1968.
Toni Rodrigues
Escritor, jornalista, historiador, poeta, romancista e contista. Atuou em vários veículos de comunicação de Altos, Teresina e Campo Maior.
Fundador e redator-chefe dos jornais Impacto, Imprensa escrita e outros.
Livros publicados: Artifício corrompido (1986), Romance (1987), Altos, passado e presente (1992), Crônica de um amor proibido (1995), Gerações em conflito (1995), Conexão Delta do Parnaíba (1997), Matadores de Prefeitos (1999), Aquidabã – uma história da Praça Pedro II (2000), Coração de adolescente (2002), Histórias & crimes (2003), Histórias policiais & memórias ocultas (2004), José, pai de Jesus (2005), Entre dois mundos (2007), Centenário de nascimento de Ivan Tito de Oliveira (2011) e Um repórter (2011).
Livros inéditos: O vaqueiro e o tempo (romance épico sobre a Batalha do Jenipapo), O campeão de audiência (história de sua atuação jornalística na Rádio São José dos Altos), Fadinha plebéia (história de amor), Dossiê JK (história do ex-presidente Juscelino Kubitschek) e outros.
Outros nomes
Muitos outros há que não estão incluídos neste rol e que têm seu mérito enquanto literatos, ficando para posterior publicação um apanhado sobre seu fazer no glorioso campo das letras.
São nomes representativos de nossa literatura: Laurindo Raulino, Joaquim Rodrigues da Paz, Washington Raulino, Maria Ribeiro, Rosinha Costa, Fransquinha Figueiredo, João Cleto, Francisco Santos, Gregorina Negreiros, Marcondes Araújo, Alzenira dos Anjos, Helena Bomfim, Pedro Paiva, George Ricardo, Válter Lima, Chico Chaves, Kiko Fontenelle, Maurício Nordeste, Marcelo Mascarenha, Emília Rocha, Desterro Gomes, Beth Falcão, Carlos Machado, Reginaldo Melo, Pedro Paulo de Paiva Pereira, Marinaldo Alencar, Nice Rodrigues, Suzana Paz e Antonio Soares, que lançou recentemente o romance Botija – em busca de um tesouro.
Valorizando nossas letras
Para finalizar, evoco as sábias palavras do crítico literário Antônio Cândido, a fim de estimular a leitura, conhecimento e valorização de nossas obras: “Comparada às grandes, a nossa literatura é pobre e fraca. Mas é ela, não a outra, que nos exprime. Se não for amada, não revelará a sua mensagem; e se não a amarmos, ninguém o fará por nós. Se não lermos as obras que a compõem, ninguém as tomará do esquecimento, descaso e incompreensão”.
Por Carlos Dias, professor e pesquisador/Portal Altos