Como estamos em fim de ano, resolvi produzir desta feita textos retrospectando fatos proeminentes que tiveram lugar no nosso município em épocas remotas.
Retomando as importantes efemérides ocorridas há 60 anos que marcaram a história sociocultural altoense, trago agora à memória da comunidade o registro da significativa passagem do grande Rei do Baião à nossa cidade, no distante ano de 1953.
Registro colhido na 3ª edição do jornal O Altoense, do saudoso professor e historiador Chiquinho Cazuza, datada de outubro de 1987, em sua página 04, dá conta do registro, com o testemunho de quem presenciou aquele memorável acontecimento.
Segundo relato do cronista, a visita está entre os “dois acontecimentos que abalaram a monotonia da nossa cidade”, sendo este o “principal acontecimento artístico” daqueles tempos idos. O outro fato foi a visita da imagem peregrina de Nossa Senhora de Fátima, já relatado em edição anterior desta coluna.
O show do sanfoneiro aconteceu bem no meio no largo da praça da igreja matriz de São José (hoje Praça Cônego Honório), debaixo de uma velha mangueira, onde se improvisou um palco feito de caixotes vazios de cerveja. Sendo um artista de renome nacional, o primeiro, talvez, que por aqui passava, a praça tornou-se pequena para tantas pessoas. Diz-nos Chiquinho que “havia gente até nos galhos das mangueiras”.
Largo da Praça da igreja matriz de São José, em Altos (foto de 1959), palco de
realização do show artístico de Luiz Gonzaga em 1953
Ali Gonzagão cantou e encantou a massa popular, que extasiada ouvia e dançava ao som de sua sanfona, zabumba e triângulo, instrumentos componentes dos conjuntos musicais da época.
“Após o show, o cantor e os componentes do conjunto dirigiram-se ao bar (Botequim do Chico Cazuza) para tomar coalhada. Depois foram à casa do Prefeito Anísio Lima(ali na Praça da Independência, onde residia seu filho, o Delegado de Polícia Carlos Lima). A população seguia atrás. Em casa do Prefeito, apesar dos pedidos, o sanfoneiro recusou-se a tocar ou a cantar qualquer número”. – Assim afirma o relator do fato, que contava na época seus 15 anos de idade.
O então Prefeito Municipal, Anísio Ferreira Lima, contratante do artista, fez arrecadação entre os habitantes, pagando pelo contrato o valor de 4.000$000 (quatro contos de réis), custeados pelos fãs e admiradores de Luiz Gonzaga.
O repertório
Tentando viajar no tempo e fazer um mapeamento do que fora aquele importante acontecimento e quais músicas animaram a população presente àquele festivo momento, fiz uma cronologia dos principais sucessos de Gonzagão que animaram os forrozeiros daqueles tempos remotos e marcaram época em sua carreira musical:
- Pé de serra, Luiz Gonzaga (1942)
- Penerô xerém, Luiz Gonzaga e Miguel Lima (1945)
- Baião, Humberto Teixeira e Luiz Gonzaga (1946)
- Asa-branca, Humberto Teixeira e Luiz Gonzaga (1947)
- No meu pé de serra, Humberto Teixeira e Luiz Gonzaga (1947)
- Quer ir mais eu?, Luiz Gonzaga e Miguel Lima (1947)
- Firim, firim, firim, Alcebíades Nogueira e Luiz Gonzaga (1948)
- Assum-preto, Humberto Teixeira e Luiz Gonzaga (1950)
- Cintura fina, Luiz Gonzaga e Zé Dantas (1950)
- No Ceará não tem disso, não, Guio de Morais (1950)
- Respeita Januário, Humberto Teixeira e Luiz Gonzaga (1950)
- Vem, morena, Luiz Gonzaga e Zé Dantas (1950)
- Olha pro céu, Luiz Gonzaga e Peterpan (1951)
- Sabiá, Luiz Gonzaga e Zé Dantas (1951)
- Pau-de-arara, Guio de Morais e Luiz Gonzaga (1952)
- Piauí, Sylvio Moacyr de Araújo (1952)
- Á-bê-cê do sertão, Luiz Gonzaga e Zé Dantas (1953)
- A vida do viajante, Hervé Cordovil e Luiz Gonzaga (1953)
- Moreninha tentação, Sylvio Moacyr de Araújo e Luiz Gonzaga (1953)
- O xote das meninas, Luiz Gonzaga e Zé Dantas (1953)
Certamente com muitos destes sucessos a comunidade altoense foi brindada naquele memorável show do Rei do Baião, presenciado por vários contemporâneos e admiradores do talento invejável de Luiz Gonzaga, dentre os quais o grande sanfoneiro Libório Neto, já falecido.
Perfil biográfico de Luiz Gonzaga (Fonte: Wilkipédia - a enciclopédia livre)
Luiz Gonzaga do Nascimento, mais conhecido como Luiz Gonzaga e Rei do Baião, nasceu em Exu-PE, a 13 de dezembro de 1912, tendo falecido em Recife,capital pernambucana, a 02 de agosto de 1989. Foi um importante compositor popular brasileiro.
É considerado uma das mais completas, importantes e inventivas figuras da música popular de nosso país. Cantando acompanhado de sua sanfona, zabumba e triângulo, levou a alegria das festas juninas e dos forrós pé-de-serra, bem como a pobreza, as tristezas e as injustiças de sua árida terra, o sertão nordestino, ao resto do país, numa época em que a maioria desconhecia o baião, o xote e o xaxado.
Admirado por grandes músicos, como Dorival Caymmi, Gilberto Gil, Raul Seixas,Caetano Veloso, entre outros, o genial instrumentista e sofisticado inventor de melodias e harmonias, ganhou notoriedade com as antológicas canções, especialmenteBaião (1946), Asa Branca (1947), Siridó (1948), Juazeiro (1948), Qui nem jiló (1949) e Baião de Dois (1950).
Por Carlos Dias, professor e pesquisador