Com efeito, o que a cidade e o Estado verão naquele começo dos anos 30, entre as idas e vindas da dança dos interventores, e até mesmo após o fim delas, em 1945, é a volta ao poder dos grupos tradicionais, com suas idéias e práticas, afinal só superáveis com mudanças mais profundas, o que não foi o caso. (Zózimo Tavares, em 100 fatos do Piauí no século XX, 2002, p. 141).

No Governo Vargas e nos que o precederam chama a atenção o fato de tanto os sucedidos quanto os sucessores partilharem a mesma concepção de governo, numa demonstração típica da herança legada pelos velhos coronéis, que se apoderavam do erário público e faziam da administração – que deveria ser para o bem-estar de todos –, uma extensão de seus domínios, nomeando parentes, cunhados, amigos e correligionários para exercerem funções públicas e, assim, assegurarem o controle absoluto da municipalidade.

Funções administrativas estratégicas passaram a ser desempenhadas por personagens ligadas aos grupos que estavam no poder, nem sempre com a competência exigida para o cargo. Se não compunham o círculo de amizades e simpatia do Prefeito Municipal, tinham familiaridade com o chefe político que o indicou ao governante estadual, que assegurava, assim, a política dos governadores herdada da República Velha.

Dias antes da Revolução ser inaugurada no Piauí, como de resto no Brasil, o Governo do Piauí assinou portaria de nomeação do jovem Honório Saraiva Barbosa como Oficial do registro Civil e Escrivão de Casamentos em Altos, por ato de 22 de setembro de 1930. Honório (1909-1992), que posteriormente tornou-se primoroso poeta e cronista, era cunhado do intelectual Antônio Neves de Melo, Escriturário da Secretaria Geral de Governo do Piauí (1927) e Diretor da Imprensa Oficial e do Diário Oficial do Estado (1932), além de sobrinho do Coronel Lourenço Barbosa, futuro Prefeito da cidade por mais de uma década.

Um dos primeiros atos de Lourenço Barbosa à frente da Prefeitura no ano de 1934 foi arrumar uma vaga de professora para sua prima Modestina Rosa do Monte, que passou a lecionar na Escola Singular Mista do Povoado Coivaras, então município de Altos. (Diário Oficial do Piauí nº 89, de 23.04.1934).

O(s) governo(s) de Plínio Mozart

Plínio Mozart de Morais era Sargento da Polícia Militar do Piauí. Foi o sucessor de Vicente Pestana na Prefeitura Municipal de Altos, governando como Prefeito em Comissão no período de outubro de 1930 a setembro de 1931. Na sua administração, seu cunhado Odorico de Almeida Saraiva exerceu o cargo de Procurador-Tesoureiro da Prefeitura, nomeado por ato de 22 de julho de 1931. Este mesmo ato nomeava também Anísio Ferreira Lima para exercer a função de Agente Distrital de Alto Longá e Benedito dos Reis Cavalcante (B. Reis) para a mesma função em Beneditinos. Ambos eram correligionários do grupo do Prefeito.


Odorico de Almeida Saraiva

As duas cidades citadas haviam sido extintas pelo Decreto n° 1.279, de 26.06.1931, passando a Distritos Administrativos Municipais e tendo suas terras anexadas ao território de Altos, situação revogada por força do Decreto n° 1.575, de 17 de agosto de 1934, quando readquiriram as suas autonomias. (BASTOS, 1994, p. 31; 74).

Tendo sido nomeado Prefeito de Picos-PI, o Sargento Plínio “passa” a administração de Altos ao seu cunhado Odorico Saraiva, nomeado Prefeito em 29 de setembro de 1931, através de Decreto do Interventor Federal no Piauí, Tenente Landry Sales Gonçalves. O mandato do novo Prefeito terminou em abril do ano seguinte.

Odorico era fazendeiro, comerciante e desportista, tendo integrado a diretoria do Altoense Futebol Clube, o primeiro time de futebol da cidade de Altos, de cuja agremiação esportiva foi presidente. Vasculhando os documentos arquivados na Casa Anísio Britto, em Teresina, pudemos elencar como obras de seu governo: a conservação das estradas estaduais, a continuação da obra de construção do Mercado Público de Altos e a construção dos mercados públicos de Alto Longá e Beneditinos, então Distritos Administrativos de Altos.

Assim como na cidade de Altos, em Picos o novo Prefeito Plínio Mozart encontrou inúmeras dificuldades no setor educacional, com professores primários nomeados pelo município sem formação normalista, o que causava repulsa nas famílias, que preferiam mandar seus filhos estudar em outros centros, não obstante as despesas decorrentes da mudança.

Plínio Mozart permaneceu como Prefeito de Picos até abril de 1932, retornando ao cargo de Prefeito de Altos. Esta segunda fase de sua gestão durou dois anos, tendo terminado em 16 de abril de 1934, quando foi exonerado, a pedido, por ato governamental, de 16 de abril, assinado pelo Interventor Federal Landry Sales. (Diário Oficial do Piauí, de 24.04.1934).

Quais as causas de sua renúncia? Por que um Prefeito, com todas as regalias e prerrogativas, renuncia à função de chefe do Executivo Municipal? Por que essa dança administrativa entre as prefeituras de Altos e Picos? Que ações administrativas inquietaram a população ou os interesses da elite dominante nas duas cidades por ele administradas? Essas são indagações para as quais ainda se buscam respostas, vez que nos parcos documentos encontrados não foram encontradas informações que ajudem na solução destas questões.

Enquanto Prefeito de Altos, Plínio Mozart iniciou a construção do Mercado Público da cidade, tendo realizado a transferência da feira livre para a frente do local da obra, numa área próxima à igreja matriz de São José, onde fica atualmente o calçadão da Praça Cônego Honório. Em 1932 Altos recebe do Governo do Estado a verba de 30:000$000 (trinta contos de réis) para investimentos em obras contra as secas, destinados à abertura de poços e açudes, que o então Prefeito levou a cabo, em benefício da população.

Através do ofício de n° 03, de 22 de julho de 1931, Plínio comunicou ao Interventor Federal no Piauí os nomes dos membros do novo Conselho Consultivo do município: Lourenço Saraiva Barbosa e Antonio Ribeiro de Vasconcelos (escolhidos) e Francisco Raulino, Vicente Soares da Silva Pestana e Giovanni Martins Viana (nomeados), sendo os três últimos aprovados pelo Interventor e efetivados no Conselho. (Diário Oficial do Piauí, de 22.07.1931).


Feira Livre de Altos, no anos 60, vendo-se ao fundo o Mercado Público iniciado pelo Prefeito Plínio Mozart

Por Carlos Dias, professor e pesquisador