Há 75 anos atrás, em 12 de setembro de 1938, falecia na provinciana cidade de Altos o ilustre cidadão Vicente Soares da Silva Pestana, funcionário público, enfermeiro prático, político e Capitão da Guarda Civil Nacional.

Natural de Oeiras-PI, nasceu ele em outubro de 1864. Era filho de Belizário da Silva Conrado e Luiza Pereira da Silva, sendo irmão do grande literato e advogado Clodoaldo Freitas.

Transferiu-se da velha capital para Teresina, onde trabalhou nas companhias de navegação a vapor. Ali conheceu e casou com a professora Altina Pestana, nascendo do consórcio 02 filhos: Maria Augusta (Sazinha) e Benedito, que foi poeta, jornalista e redator-chefe do jornal A Tesoura, o primeiro a circular em Altos, no distante 22 de abril de 1902. A família residia na antiga Rua dos Negros, no chamado Alto da Moderação, próximo à Praça Conselheiro Saraiva.

Este oeirense chegou a Altos ainda em fins do século XIX, movido por recomendação médica para tratamento de saúde, pois nossa cidade era de clima ameno, propício à recuperação de enfermos. Aqui chegando, fincou raízes e permaneceu até o fim de sua existência. Residiu por longas décadas
em casa situada atrás da igreja de São José, onde funcionou o extinto Colégio Fênix e hoje está a Secretaria Municipal de Desenvolvimento Social e Cidadania.

Tinha conhecimentos práticos de
medicina caseira. Naquele tempo os médicos eram raros e o acesso à capital piauiense muito difícil; assim, era ele muito procurado para tratamentos de saúde. Diz-nos a grande memorialista Ignês Sousa (1919-2006), em crônica denominada “O comércio de Altos nos anos trinta” (jornal O Altoense, ano V, nº IX, de janeiro de 1992, página 02), que o ilustre homenageado “até mesmo sabia indicar remédios de laboratórios adequados de acordo com o caso”, afirmando que ele “prestava socorros de emergência, com êxito, como por exemplo: imobilizar uma perna ou um braço quebrado, aplicar uma ventosa, coisa muito usada naqueles tempos, e até mesmo orientar um tratamento prolongado a uma pessoa enferma”.

Foi Coletor Federal e Inspetor de Ensino da então povoação dos Altos, nomeado por portaria de 05 de agosto de 1898, assinada pelo governador Raymundo Arthur de Vasconcelos.

Deflagrado o movimento revolucionário que deu início à Era Vargas em 1930, Vicente Pestana tornou-se o primeiro Prefeito nomeado de Altos naquela época, governando a cidade por um curto período de tempo
. Sua nomeação se deu através do Decreto n° 1.104, de 06 de outubro de 1930, que também nomeou outros 22 novos prefeitos para diversos municípios piauienses.

Em correspondência de 09.10.1930, Vicente Pestana dá ciência ao Interventor Federal no Piauí de sua posse na chefia do Executivo Municipal:

Altos, 9 – Communico a V. Exª. haver assumido o exercicio do cargo de Prefeito. Aproveito a oportunidade para, mais uma vez, reiterar-lhe os protestos da mais alta absoluta estima e distincta consideração. Attenciosas saudações. Prefeito de Altos. [Vicente Pestana]. (Jornal O Piauí, 09.10.1930).

Naquele período, os prefeitos governavam de maneira absolutista, havendo muita influência dos clãs tradicionais na vida política das comunidades, percebendo-se a velha prática coronelista e oligárquica, que apenas se repetiria com as substituições efetuadas durante a Era Vargas.Tal assertiva pode ser comprovada na nomeação do novo Prefeito: Vicente Pestana, já quase septuagenário, era avô de Edith Pestana Sales, casada com o comerciante do ramo de tecidos Pedro Ferreira Sales, primo legítimo do Interventor Federal no Piauí, Tenente Landry Sales.O grau de parentesco mencionado, aliado a seus valores morais, não deixa de ter sido decisivo quando da sua escolha para administrar a cidade.

No mesmo mês de outubro de 1930, fora substituído na Prefeitura por Plínio Mozart de Morais, Sargento da Polícia Militar do Piauí, tendo este governado como Prefeito em Comissão no período de outubro de 1930 a setembro de 1931, e depois retornado ao comando municipal de 1932 a 1934.

Pestana fora depois nomeado membro do Conselho Consultivo de nossa cidade, conforme ofício nº 03, de 22.07.1931, do Prefeito Plínio Mozart.
Eram também membros do Conselho, que correspondia à Câmara de Vereadores do município: Lourenço Saraiva Barbosa, Antonio Ribeiro de Vasconcelos, Francisco Raulino e Giovanni Martins Viana.

O Capitão Vicente Pestana está sepultado no cemitério público São José, desta cidade.